País quer conquistar o décimo lugar no quadro de medalhas olímpico
Por Ary Cunha e Claudio Nogueira
RIO — Competir em casa é sempre uma enorme vantagem. Mas para fazer bonito no Rio-2016, o esporte brasileiro já viu que terá de aprender outros idiomas e se adaptar a novas culturas. Num país onde incontáveis talentos se perdem por falta de oportunidade, a presença crescente de treinadores estrangeiros nas seleções brasileiras tem superado as resistências habituais e se mostrado um caminho eficiente para melhorar resultados.
Entre 2008 e 2012, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), com recursos da Lei Piva, trouxe 36 treinadores estrangeiros, de 19 países diferentes e contemplando 23 modalidades. Embora a meta principal sejam as Olimpíadas do Rio, com o objetivo de ficar entre os dez melhores no total de medalhas, em alguns casos os avanços significativos dessa importação de novos conceitos já puderam ser percebidos em Londres-2012. Como a volta do basquete masculino aos Jogos, depois de 16 anos, sob comando do argentino Rubén Magnano, e a boa campanha do outrora inexpressivo handebol feminino, que tem o dinamarquês Morten Soubak como técnico. Um intercâmbio de conhecimento que pode ser uma via de mão dupla.
— O handebol feminino brasileiro está mais à europeia. Elas estão ganhando experiência e atuando em clubes fortes. Um bom número delas está na Europa, e já são consideradas jogadoras de ponta. Antes, elas não jogavam em times grandes nem tinham posição de destaque — afirma Soubak, que veio para o Brasil pela primeira vez para treinar o Pinheiros, em 2005, e comanda a seleção feminina desde 2009.
Segundo o superintendente-executivo do COB, Marcus Vinícius Freire, a aprovação dos nomes contratados é feita em conjunto pelo próprio comitê e as confederações. Ele ressalta que países como Austrália e China trilharam esse mesmo caminho de trazer mão de obra de fora, antes de sediarem as Olimpíadas, e o resultado se refletiu no quadro de medalhas. No caso brasileiro, entretanto, o dirigente admite que a ideia de se contratar estrangeiros ainda faz muito treinador brasileiro torcer o nariz.
— Há resistência, com certeza. É preciso fazer um trabalho de convencimento, assumir que temos algumas deficiências e trazer treinadores muito qualificados. No caso do taekwondo, por exemplo, o Jean López tem quatro ou cinco medalhas olímpicas só na família dele. O Magnano é campeão olímpico (Atenas-2004, com a Argentina). Não adianta trazer o treinador só porque ele trabalha numa escola tradicional. É preciso ter um perfil de vencedor.
No caso específico do basquete, o principal problema enfrentado por Magnano nem foi a resistência de treinadores brasileiros, mas a falta de identificação de nomes importantes da NBA com a seleção brasileira. Não foram poucos os problemas do argentino para superar essa fase de polêmica em torno de jogadores que dispensavam convocações. Para ele, o elo entre atleta e as cores de sua bandeira não deve surgir apenas quando ele é chamado para representar o país numa competição adulta.
— É um trabalho que deve ser feito desde as divisões de base: desenvolver essa identificação entre o atleta e a instituição. A cultura de compromisso com a seleção tem de começar a ser trabalhada lá no início, assim como o passe, o drible. Quando o atleta gosta de estar na seleção, tem felicidade de representar o país, a camisa não vira uma carga, uma pressão.
Barreiras de todo tipo
Além das barreiras do idioma e da adaptação, os estrangeiros ainda se deparam com os contrastes de um país geograficamente gigantesco, mas onde os investimentos ainda se concentram no eixo sul-sudeste. Descentralizar é preciso.
— Temos um projeto para trabalhar quatro ou cinco dias em cada estado. Preciso observar novos talentos para trabalhar. Geralmente, os meninos seguem no esporte até os 17 anos. Depois disso, fica mais difícil, pela falta de apoio — admite o espanhol Jordi Ribera, do handebol masculino.
A presença cada vez maior de estrangeiros no esporte brasileiro vai além das seleções nacionais. No país há dois anos e meio, o holandês Gerard Lenting se divide entre a seleção de heptatlo adulta e uma equipe de jovens promessas do atletismo. Segundo ele, quem se abre a novas ideias evolui mais:
— Vejo muitas pessoas fazendo sempre as mesmas coisas, simplesmente porque aprenderam dessa forma. Mas ninguém questiona o porquê disso. É preciso refletir sempre.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/esportes/de-olho-no-rio-2016-brasil-trouxe-36-tecnicos-estrangeiros-para-selecoes-desde-2008-6724913#ixzz2CDOYmd35
Nenhum comentário:
Postar um comentário