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domingo, 25 de novembro de 2012

Rio 2016: segurança é mais do que proteger o público


Oficial que comandou forças policiais nas Olimpíadas de Londres explica como organizar Jogos seguros

Por LUIZ ERNESTO MAGALHÃES

RIO — A segurança de milhões de súditos de Sua Majestade, chefes de governo, milhares de atletas e de turistas esteve nas mãos do comissário assistente Chris Allison durante os Jogos Olímpicos de Londres. Oficial de polícia na capital britânica, Allison foi uma figura-chave no evento. No papel de coordenador nacional de Segurança das Olimpíadas do Reino Unido, chefiou 15 mil funcionários de quase 20 instituições do governo, incluindo policiais e bombeiros. Ele está no Rio participando de um seminário organizado pela Autoridade Pública Olímpica (APO), com apoio do consulado britânico, que termina hoje. No encontro, autoridades brasileiras e britânicas trocam informações sobre como organizar os Jogos Olímpicos de forma segura.
— Organizar Jogos Olímpicos seguros não se limita a evitar incidentes durante o evento. Quando falamos sobre o planejamento da segurança em si, o momento crucial em que o organizador demonstra na prática se tem capacidade para proteger a população ocorre quando começa a cerimônia de passagem da tocha. O símbolo olímpico passa por dezenas de cidades semanas antes do início dos Jogos, e é preciso protegê-lo — disse Allison.
O encontro reúne mais de 280 pessoas, entre representantes do governo britânico e autoridades da União, do governo do estado e da prefeitura. Ao todo, estão sendo repassados aos colegas brasileiros informações divididas por 20 áreas. Nessa lista estão: segurança, cerimônias olímpicas, atendimento médico, transportes e telecomunicações, entre outros itens.
Para o comissário, o conceito de segurança nos Jogos vai além do policiamento ostensivo antes e durante o evento. Passa também por medidas prévias como a fiscalização da aplicação de recursos públicos, para evitar que empresas aproveitem para cobrar preços extorsivos. O policial destaca que, apesar de Brasil e Inglaterra terem problemas distintos em segurança, há preocupações em comum, e as experiências podem ser compartilhadas entre as polícias. Durante o evento, segundo ele, houve queda média de 7% nas principais ocorrências policiais em Londres.
Segundo Allison, o sucesso dos Jogos também terá que passar pela integração das forças policiais com empresas de segurança particular. Nesse planejamento, agentes de todo o país têm que ser envolvidos.

Atenção à falsificação de ingressos
De acordo com ele, muitos desses conceitos já foram apresentados a representantes da Secretaria nacional de Segurança em Grandes Eventos. Allison lembrou ainda que policiais do Rio estiveram em Londres como observadores antes e durante os Jogos. Ele destacou ainda a necessidade de atenção especial para evitar ações de máfias internacionais, que tentam se valer das Olimpíadas para tirar proveito financeiro. Para o comissário, agentes devem estar atentos, por exemplo, à ofertas de produtos na internet.
— Temos que prestar atenção a falsificações de ingressos, à ação de cambistas e à venda de pacotes de turismo inexistentes. Nós monitoramos as redes sociais com rigor e tiramos vários sites do ar. Na maioria dos casos, os processados eram pessoas físicas — contou.
Por fim, devem ser monitorados protestos de movimentos que podem se aproveitar da visibilidade do evento para divulgar suas ideias:
— A democracia britânica tem uma longa tradição de tolerar manifestações. Protestos são permitidos durante eventos, mas a polícia tem que ter conhecimento prévio da data e do roteiro. Quando isso não foi respeitado, nós reprimimos, mas não houve qualquer incidente mais grave nesses casos.

A importância de ter um plano B
O comissário assistente Chris Allison acrescentou que um dos maiores desafios de logística ocorreu na noite da cerimônia de abertura. Além de monitorar os milhares de espectadores, curiosos, atletas e voluntários que seguiam para o estádio olímpico em Strattford, foi preciso também cuidar do deslocamento dos convidados oficiais. A rainha Elizabeth recebeu na tarde daquele dia mais de 130 chefes de Estado e de governo no Palácio de Buckingham. Depois, à noite, todos foram juntos para o estádio olímpico.
O oficial também destacou a importância de uma proteção especial aos equipamentos esportivos ainda durante a fase dos preparativos dos Jogos e de ter um plano de emergência, se algo der errado. Como exemplo, ele citou uma crise a duas semanas do evento, quando a empresa G4S, que deveria fornecer 7.500 seguranças particulares, informou que não conseguira recrutar pessoal para mais de três mil vagas. A solução foi recorrer aos militares para complementar os quadros, como previsto num plano de contingência.
Além da questão da segurança, é preciso estar atento a imprevistos nos preparativos da infraestrutura, como observa Dennis Hone, executivo-chefe da Olympic Delivery Authority (ODA), entidade criada para administrar o legado olímpico. Dennis, que também participa do seminário, lembra os imprevistos acontecidos ao longo dos preparativos dos britânicos. Com a crise financeira de 2008, a iniciativa privada desistiu de construir a Vila dos Atletas. E a prefeitura de Londres teve que arcar com as obras. Pouco antes dos Jogos Olímpicos, o Fundo Soberano do Catar arrematou o empreendimento. Durante os eventos-testes surpresas podem surgir:
— No nosso caso, os problemas foram no traçado da pista de moutain bike. Tivemos que refazê-lo porque três competidores caíram e quebraram o braço num evento preparatório. Isso não reduz a importância do legado dos Jogos. E, para surtir efeito, esse legado tem que ser pensando bem antes dos Jogos — disse Dennis.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/rio-2016-seguranca-mais-do-que-proteger-publico-6818717#ixzz2DFBHFU6h 

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