Prefeito diz que terreno onde será instalado equipamento olímpico já está degradado e que complexo hoteleiro foi aprovado em 2005
Por DIEGO BARRETO e LUIZ ERNESTO MAGALHÃES
RIO — Moradores da Barra realizaram na manhã desta terça-feira um protesto contra a construção do campo de golfe das Olimpíadas de 2016, na Barra, e de um resort na entrada da Praia da Reserva. A manifestação aconteceu em frente ao Itanhangá Golf Club e reuniu cerca de 20 pessoas. Um dos manifestantes estava vestido de golfista e usava uma máscara.
O campo de golfe olímpico será construído, num terreno com mais cerca de um milhão de metros quadrados às margens da Avenida das Américas, na Reserva de Marapendi. No local, também poderão ser erguidos até 22 edifícios residenciais com 22 andares cada.
— O golfe poderia ter suas provas realizadas aqui no Itanhangá e não seria necessário um investimento tão grande. Além disso o campo de golfe olímpico será construído numa área de preservação, remanescente de Mata Atlântica. Queremos que a área seja reflorestada e recuperada e não entregue como moeda de troca para a especulação imobiliária — disse o biólogo Marcello Mello, um dos líderes do movimento Salve a Reserva, que começou com um mobilização nas redes sociais.
Outra crítica do grupo é em relação ao resort que está sendo construído na entrada da Praia da Reserva, numa área de 45 mil metros quadrados. O empreendimento do grupo hoteleiro Hyatt prevê quatro prédios de seis pavimentos com um total de 436 apartamentos, além de dois condomínios residenciais de luxo com outras 80 unidades.
O terreno onde o complexo será construído já pertenceu à Área de Preservação Ambiental (APA) de Marapendi. Em 2005, a Câmara dos Vereadores aprovou, em votação relâmpago, um projeto de lei retirando o terreno da APA. A lei manteve intocáveis as áreas consideradas de preservação, mas dobrou a área total edificável. O ex-prefeito Cesar Maia chegou a entrar na Justiça contra o empreendimento. Mas a lei foi julgada constitucional pelo Tribunal de Justiça. A Rede Hyatt decidiu construir um hotel no local aproveitando os incentivos fiscais do pacote olímpico aprovado pela prefeitura em 2010 na Câmara dos Vereadores para construir novos hotéis no Rio.
— Aquela área da Praia da Reserva já está sufocada. Imagina toda essa quantidade de gente circulando ali. O impacto será enorme — diz Eliane Farias, uma das criadoras do movimento Salve a Reserva, que programa nova manifestação está marcada para a manhã do próximo sábado na Praia da Reserva.
Prefeito defende projeto do golfe
O prefeito Eduardo Paes defendeu nessa terça-feira o projeto de construção do campo de golfe olímpico e disse que não teria como vetar o plano da rede Hyatt de construir um hotel e um condomínio de luxo na entrada da Praia da Reserva na Barra. As declarações foram dadas durante a apresentação dos projetos da prefeitura para as Olimpíadas de 2016 no terreno do futuro parque olímpico em construção no terreno do antigo autódromo, na Barra.
Paes lembrou que o terreno onde será construído o empreendimento imobiliário já permitia resorts desde 2005, quando a Câmara dos Vereadores aprovou o projeto que retirara o terreno da Apa de Marapendi e dobrava o potencial construtivo
— Não fui eu quem aprovei a lei daquela forma. O problema é que o terreno era muito valorizado e teríamos um custo enorme para desapropriá-lo. Sem contar que já havia um projeto aprovado de resort para aquela área — disse o prefeito.
Sobre o projeto do Campo de Golfe, Paes lembrou que a maior parte do terreno escolhido fica de fato na Apa de Marapendi mas já está degradado. Ele lembrou que no passado, o espaço já foi usado como uma usina de concretagem (para a construção de pré-moldados de Cieps). Na entrevista, porém, ele não fez referência que um trecho de 58 mil metros quadrados do Parque de Marapendi serão incorporados ao projeto do campo.
A rede hoteleira Hyatt divulgou nota informando que o resort na Praia da Reserva está de acordo com a legislação ambiental e urbanística da cidade. Segundo o grupo, 60% da área de 45 mil metros quadrados, hoje degradada, passará por processo de regeneração da vegetação nativa. Segundo Hyatt, o empreendimento custeará a construção de rede de esgoto com 1.300 metros, ligada ao emissário submarino da Barra.
A construção do campo de golfe cria polêmica desde o último dia 5 de novembro, quando o prefeito Eduardo Paes encaminhou à Câmara dos Vereadores um projeto de lei alterando parâmetros ambientais e urbanísticos na Barra. A proposta prevê que uma área de 58 mil metros quadrados, hoje consideradas Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS), seja liberada para o campo de golfe.
O primeiro protesto realizado pelo movimento Salve a Reserva aconteceu no último sábado, na Praia da Reserva, e reuniu 400 pessoas. Durante a manifestação policiais militares chegaram a usar gás de pimenta contra um grupo de manifestantes, que tentou obstruir o trânsito da Avenida Lúcio Costa, na Barra.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/moradores-protestam-contra-campo-de-golfe-na-barra-resort-na-reserva-6777979#ixzz2CtY0fuaB
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