Anunciado na semana passada pela presidente Dilma Rousseff, o projeto Brasil Medalhas 2016 representa um avanço, mas não pode ser visto como um fim. É apenas uma parte das transformações de que o país precisa. Para o Brasil tornar-se de fato uma potência olímpica, é indispensável uma política nacional de esportes, a construção de um sistema que seja sólido e tenha êxito em duas dimensões: a prática esportiva de base e o esporte de alto rendimento. Uma não existe sem a outra.
Não há país olimpicamente forte se não houver a massificação do esporte. A própria presidente, em seu discurso, reconheceu a necessidade de investimentos na base. Pois a mudança está nas mãos dela. Seu governo precisa fazer cumprir o que recomenda a Organização Mundial de Saúde: incluir um mínimo de cinco horas semanais de prática esportiva no currículo escolar. Este é, inclusive, compromisso de legado da Olimpíada do Rio para rede municipal de ensino. Que não apenas tem de ser cumprido, mas que deve ser ampliado para todo o país.
Ao Brasil cabe qualificar e reconhecer os professores de educação física, integrar os programas federais, estaduais e municipais de educação e estimular competições estudantis nos três níveis. São elas que vão fazer surgir os novos talentos. Aqueles que passarão às disputas de alto rendimento. E que, neste ponto, entrarão na segunda dimensão do sistema.
A proposta do governo é ambiciosa nesta área. Mas balança entre a virtude da intenção e o equívoco do tempo. Foca nos atletas, através dos programas de bolsas, assegurando uma vida digna e condições ideais de treinamento. Foca na compra de equipamentos e na construção de centros de excelência para os esportes olímpicos e paralímpicos. Medidas que podem e devem até gerar avanços pontuais no quadro de medalhas. Mas que para dar resultados significativos devem ir muito além de 2016, transformando o Brasil num país verdadeiramente esportivo.
Das federações e confederações cabe ao governo exigir contrapartidas. É fundamental termos uma gestão profissional em que os dirigentes possam ser remunerados, respondam a conselhos independentes e tenham metas objetivas de resultados a serem atingidas como requisito básico para receber os recursos públicos. E os que não cumpri-las devem sair.
A hora é de decidirmos onde queremos chegar. Não queremos ser uma Espanha ou uma Grécia, que jamais conseguiram repetir sequer os resultados medianos que obtiveram em Barcelona-1992 ou Atenas-2004, deixando à mostra a fragilidade de uma política oportunista de uma Olimpíada só. Melhor ser um Reino Unido, que a cada quatro anos evolui em suas conquistas encerrando, em Londres, sua melhor participação nos Jogos da era moderna. Estamos atrasados. Mas a partida pode não estar perdida. Vontade política de fazer é o início da virada.
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