Stefano Hawilla afirma que política do clube atrapalhou, diz não temer ser envolvido em litígio e argumenta que o retorno para a empresa foi zero
Por Vicente Seda
Em janeiro de 2011, o Flamengo, com respaldo da Traffic, conseguiu viabilizar o retorno de Ronaldinho Gaúcho ao Brasil. Sete meses depois, a empresa que custeava três quartos do salário do jogador interrompeu os pagamentos. Foram milhões de investimento. E, segundo o CEO (diretor executivo) da Traffic, Stefano Hawilla, zero de retorno. O executivo que assumiu a empresa de marketing esportivo explica o motivo de afirmar sem hesitar que "não faria de novo" um negócio nos mesmos moldes. Nesta quarta-feira, às 22h (de Brasília), no Engenhão, o agora R49 do Atlético-MG enfrentará seu ex-clube pela primeira vez desde a sua saída, em rodada adiada do primeiro turno por causa da interdição do estádio.
Hawilla substituiu Júlio Mariz no comando da Traffic. A parceria com o Flamengo foi conduzida por seu antecessor. O executivo não falou em valores, mas a empresa bancava o contrato de imagem de Ronaldinho, com vencimentos de R$ 750 mil mensais, fora o salário pago pelo clube. O aporte, que em sete meses somou R$ 5,2 milhões, teria como contrapartida percentuais dos contratos de patrocínio do clube a partir de determinado patamar. Não houve sucesso, o Flamengo ficou sem patrocinador na camisa, e não apareciam ofertas no valor estipulado. Desta forma, o clube acabou fechando, através de outra agência, a 9ine, de Ronaldo, um curto contrato com a Procter&Gamble, que sequer foi renovado. A Traffic, assim, interrompeu os pagamentos.
Iniciou-se então uma extensa negociação sobre um novo formato da parceria para que a empresa pudesse ter retorno do que investiu. Entraram em pauta programa de sócio-torcedor, licenciamento de produtos, e a discussão terminou sem acordo em fevereiro de 2012, quando o clube anunciou definitivamente o rompimento da parceria, assumindo os pagamentos que caberiam à Traffic. Com o clube sem condições de honrar os compromissos, o atraso minou a relação entre Ronaldinho e Flamengo. O "casamento" terminou em litígio, no qual o craque cobra R$ 40 milhões por quebra de contrato, fora outra ação de R$ 15 milhões por danos morais.
Questionado sobre a parceria frustrada, Hawilla afirmou que não faria de novo um negócio nos mesmos termos.
- Eu acho que o formato não é bom nem para o clube, nem para a empresa. O acordo que a gente teria com o Flamengo seria de eles cederem algumas propriedades para a gente, em troca de ajudarmos com o Ronaldinho. Mas acabou não sendo feito. Clube grande hoje tem muitas correntes políticas. Então é sempre complicado quando você é uma empresa privada e tem uma parceria tão grande com um clube em que você é obrigado a entrar nesse meio político, acho que não funciona. A gente não faria de novo o que fez, de ajudar o clube a custear o jogador. Eram algumas propriedades que queríamos, que o Flamengo tinha contrato com outras empresas, aí dizia que estava acabando, mas não estava acabando, é complicado. É um formato que a gente não faria de novo.
O executivo foi sucinto ao comentar o prejuízo e procurou eximir a Traffic de responsabilidade no caso.
- Foram sete meses de salários. Retorno zero e, diga-se de passagem, não por nossa culpa. Fizemos tudo para a parceria dar certo.
Hawilla afirmou também não ter receio de ver a empresa envolvida na briga judicial entre jogador e clube.
- De jeito nenhum, a gente não tem nenhum vínculo trabalhista com o Ronaldinho. Eu ajudava o Flamengo a pagar, mas nunca tivemos nenhum vínculo trabalhista com o Ronaldinho. Temos uma relação muito boa com ele, com o Assis.
De R10 a R49, Ronaldinho perdeu mais de dois terços do que recebia na Gávea. Mas passou a receber em dia e reencontrou o bom futebol, sendo peça fundamental na campanha do Atlético-MG, que briga pelo título brasileiro e liderou boa parte do campeonato até agora. O Flamengo, por sua vez, amarga a luta para se afastar da zona de rebaixamento na tabela de classificação. O vencedor do duelo da noite desta quarta-feira sairá de campo mais próximo do seu objetivo, embora o revanchismo seja descartado pelas vias oficiais.
Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/2012/09/ceo-da-traffic-sobre-parceria-com-fla-por-ronaldinho-nao-faria-de-novo.html
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