Páginas

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Escolhas ruins


Por Lena Castellón

Um abaixo-assinado circula na internet mostrando a rejeição do público às três sugestões dadas pela Fifa para batizar o tatu-bola que virou mascote da Copa de 2014. Amijubi, Fuleco e Zuzeco já causaram, até o fechamento desta edição, a indignação de mais de 28 mil pessoas, que pedem um “nome decente”.

O processo de escolha dessas três alternativas não ficou claro para a grande maioria das pessoas. A Fifa tem por hábito cercar-se de muito sigilo, como mostra a ótima reportagem assinada por Felipe Turlão a partir da página 24. Para selecionar as agências encarregadas de desenvolver seus projetos de comunicação, a entidade máxima do futebol adota medidas tão rigorosas que, se houver vazamento por causa da indiscrição de alguém, a empresa pode ser punida com multas pesadas e até com a perda do contrato.

Falta muita informação, portanto, a respeito dos procedimentos. Para a opinião pública, isso não cai bem. Especialmente porque se trata da Copa do Mundo, assunto que está na pauta do brasileiro — ele não teria esse tipo de preocupação com o resultado de concorrências feitas por grandes anunciantes. No abaixo-assinado em questão, o texto diz que a Fifa escolheu um júri formado por “pouquíssimas pessoas”.

O comunicado da entidade revela que as três opções foram selecionadas por um comitê composto por Bebeto (membro do Comitê Organizador Local, o COL), pela escritora Thalita Rebouças, pela cantora Fernanda Santos, pelo sambista Arlindo Cruz (que fez a canção da mascote), e pelo publicitário Roberto Duailibi. Afirma ainda que dois nomes surgiram para transmitir uma mensagem ecológica, Fuleco e Zuzeco. E tenta justificar a criação de Amijubi como sendo “uma representação de simpatia e alegria”.

O que se sabe também é que o departamento jurídico é o responsável pela seleção inglória. Advogados fizeram uma varredura em torno de marcas e patentes pelo mundo. De início, foram apresentadas 450 sugestões por uma agência publicitária. Depois, houve uma fase com 13 nomes. Difícil imaginar que, de tudo isso, as melhores opções sejam as três que restaram. Se for assim, que triste realidade. Amijubi é uma desastrosa junção de amizade e júbilo. Zuzeco soa como apelido brega-romântico, e mal lembra azul, a justificativa para essa criação. Fuleco remete a algo furreco e não a futebol com ecologia, outra combinação esdrúxula. De acordo com o dicionário Houaiss, furreca significa “de pequeno ou nenhum valor; insignificante, reles”. Péssima associação.

Com humor, Arlindo Cruz contou mais para o programa Redação, do SporTV. Ele queria se “defender” em meio à polêmica que se formou. “Recebi da Fifa 15 nomes e só ajudei a colocar em ordem”, disse. “Infelizmente, sobrou para o povo”, comentou. O samba de Arlindo refere-se à mascote apenas como o “tatu bom de bola”.

Meio & Mensagem buscou informações para esmiuçar essa história. Nem mesmo a participação da agência pode ser confirmada. Da forma como o sigilo rege as relações da Fifa com seus parceiros, os detalhes da escolha dos nomes talvez não cheguem à tona até que o batismo seja feito.

As críticas da população e da mídia, entretanto, começaram a incomodar a entidade. Na sexta-feira passada, a Fifa distribuiu mais um comunicado. “Estamos muitos satisfeitos com os 115 mil votos dados pelo público brasileiro até agora.” Pelo documento, fica claro que o COL e os dirigentes da federação estão acompanhando os comentários sobre as opções. A complexidade do registro de vários nomes e a legislação de propriedade intelectual são argumentos usados para explicar o método adotado para definição das propostas. A Fifa conta que o nome “tatu-bola” (defendido por alguns, caso dos autores do abaixo-assinado mencionado) não pode ser adotado devido a restrições jurídicas.

Muito bem. Batizar a mascote de “tatu-bola” seria simplista demais. Mas se a tarefa de selecionar alternativas estivesse mais concentrada na mão de especialistas em marketing — e não focadas no departamento jurídico — podíamos ao menos esperar que as opções tivessem criatividade, relevância e beleza. Nada muito diferente do que se pede às grandes marcas.

Fonte: http://www.meioemensagem.com.br/home/meio_e_mensagem/blog-da-redacao/2012/09/24/Escolhas-ruins.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário