Por Gustavo Marcondes
Lançado na semana passada, o Plano Brasil Medalhas foi anunciado como um marco no investimento do governo no esporte de alto rendimento. De 2013 a 2016, será aportado R$ 1 bilhão extra no setor, a ser somado ao R$ 1,5 bilhão já previsto no ciclo até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Com tanto dinheiro colocado nas mãos das confederações desportivas — que administrarão os recursos em conjunto com o Ministério do Esporte e comitês Olímpico e Paralímpico —, o ministro Aldo Rebelo aproveitou o momento para exigir a moralização dessas entidades.
Rebelo defende que o repasse de recursos públicos seja condicionado a medidas de democratização da administração das federações esportivas, como a alternância de poder. O ministro é entusiasta do projeto de lei do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que prevê a proibição de mais de uma reeleição a dirigentes esportivos, além de combater o nepotismo. À luz do lançamento do Plano Brasil Medalhas e das declarações de Aldo, criou-se a expectativa de que o governo só liberasse os R$ 2,5 bilhões do ciclo do Rio-2016 às entidades que se enquadrassem no novo modelo, mas não será dessa forma.
Segundo o Ministério do Esporte, a assinatura dos convênios entre confederações e entes públicos deve ocorrer em janeiro de 2013. Até lá, não há tempo para que o projeto de Cássio Cunha Lima, que atualmente se encontra em análise na Comissão de Educação do Senado Federal, se transforme em lei. E mesmo Rebelo tendo afirmado que, em tese, não seria necessária uma lei para que esse condicionamento fosse colocado em prática, o Ministério confirmou ao Correio, por meio de sua assessoria de imprensa, que os recursos destinados à preparação para a Olimpíada do Rio não serão travados pelo não cumprimento dessa orientação.
Dessa forma, as mesmas dinastias que comandam o esporte brasileiro há décadas, em alguns casos, serão responsáveis pela gestão do maior investimento da história do governo na área. A começar pelo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, que está há 17 anos na presidência da entidade.
Das 21 modalidades olímpicas beneficiadas pelo Plano Brasil Medalha, nove têm presidentes há mais de 10 anos no poder, com “destaque” para os mandatários das confederações de Atletismo (Roberto Gesta de Melo, 25 anos no cargo), Desportos Aquáticos (Coaracy Nunes, 24), Handebol (Manuel Luiz Oliveira, 23) e Canoagem (João Tomasini, 23).
E caso o projeto de Cássio Cunha Lima se transforme em lei, esses e outros dirigentes poderão perpetuar-se no poder por mais oito anos. De acordo com a proposta, os atuais presidentes não seriam afetados pelas novas diretrizes, ou seja, teriam o direito de se candidatar ao cargos que já ocupam e ainda a mais uma reeleição.
“Não queremos que o projeto pareça atingir dirigentes específicos. Além disso, isso ajuda a diminuir a resistência à ideia no Congresso”, afirma o autor da projeto. “É um processo de transição no esporte brasileiro, mas que só vai corrigir essa prática de perpetuação de poder em oito ou 10 anos”, admite o senador.
Repercussão
Um dia depois do lançamento do Plano Brasil Medalhas, Aldo Rebelo deu uma entrevista ao programa Poder e Política, do UOL em parceria com a Folha de S. Paulo, e falou do assunto. O portal de internet divulgou a notícia dizendo que, segundo o ministro, o “governo só dará dinheiro a confederações que alternem poder”. À Veja, Aldo disse que “Vamos criar um índice nacional que valorizará as entidades que modernizarem sua gestão. As que não cumprirem as metas não terão o apoio do governo.”
Fonte: http://www.superesportes.com.br/app/19,66/2012/09/23/noticia_maisesportes,36919/moralizacao-so-depois-do-rio-2016.shtml
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