Estádios terão juizados com mais poder de ação, e brigões serão monitorados pela polícia nas redes sociais
Por Antôno Werneck
RIO - A partir desta quinta-feira, duas medidas passam a valer para conter a violência das torcidas organizadas no estado: o Juizado Especial Criminal (Jecrim) terá ampliada sua competência nos estádios de futebol, atuando também em crimes cujas penas ultrapassem os dois anos de prisão; além disso, torcedores com histórico de violência serão monitorados pela polícia nas redes sociais, podendo a qualquer momento ter decretada a quebra dos sigilos telefônico e eletrônico na internet. O anúncio foi feito na quarta-feira pelo desembargador Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, presidente do Tribunal de Justiça do Rio.
Clubes têm outras propostas
Durante três horas, numa reunião com dirigentes de clubes e representantes da Federação de Futebol do Rio, o presidente do TJ discutiu ações para conter a onda de violência envolvendo torcedores. As duas medidas tiveram aprovação imediata, enquanto outras oito propostas serão avaliadas por uma comissão coordenada pela federação.
— Os clubes e a federação entenderam que precisamos agir com rapidez. Caso contrário, seremos tragados por bandidos que matam e agridem sem motivação alguma, praticando violência dentro e fora dos estádios. Não podemos dar trégua a bandidos travestidos de torcedores. A sociedade merece uma resposta — afirmou o presidente do TJ.
O desembargador garantiu que as medidas passam a valer a partir de hoje, e que elas serão aplicadas todas as vezes que a autoridade policial julgar necessário.
— Vamos seguir o trâmite normal: a autoridade policial solicita, nós analisamos e, julgando necessário, decretamos a quebra dos sigilos — garantiu o desembargador.
O primeiro encontro entre o desembargador e representantes de clubes aconteceu no dia 4 de setembro, quando foram discutidas e apresentadas medidas para conter a violência das torcidas organizadas.
— Ou nós agimos ou seremos cobrados pelo que virá — disse o presidente do TJ.
Torcedores na mira
Entre as outras medidas apresentadas pelos representantes de clubes e da Federação está o cadastramento das torcidas organizadas e a responsabilização dos seus dirigentes em caso de confusão antes ou depois dos jogos de futebol. Os clubes também propuseram medidas como a presença de um juiz do Jecrim por um período de três horas antes e depois dos jogos; a criação de uma unidade centralizadora dos flagrantes da Polícia Civil para atuar em eventos especiais; e a instalação de sistema de segurança capaz de monitorar todos os torcedores nas estações de trem e metrô. Todas as propostas serão estudadas pela comissão.
Policiais são investigados por venda de ingressos
Dois policiais militares estão sendo investigados por agentes do recém-criado núcleo de combate aos crimes praticados durante grandes eventos. Os PMs teriam sido acusados de agirem como intermediários entre a diretoria do Fluminense e quatro cambistas presos em agosto nos arredores do Estádio Olímpico João Havelange, no momento em que tentavam vender 26 ingressos de cortesia.
As entradas, que não poderiam ser comercializadas, estavam sendo oferecidas por valores entre R$ 30 e R$ 40. Elas eram destinadas exclusivamente à Polícia Militar do Rio, à diretoria e ao departamento de futebol do Fluminense, e à torcida organizada Força Flu.
As prisões ocorreram pouco antes do início da partida entre o Fluminense e o Corinthians, pelo Campeonato Brasileiro. Pelo borderô do jogo (boletim financeiro com o número de pagantes e a renda arrecadada) preenchido no dia 28 do mês passado, 14.430 ingressos foram postos à venda. Porém, apenas nove mil pessoas entraram no estádio, sendo 1.700 beneficiadas com a cortesia.
Os cambistas Luiz Cláudio da Silva, Valmir dos Santos, Cosme Alves e Fábio Nanci foram encaminhados ao Juizado Especial Criminal e acabaram autuados com base no artigo 41-F do Estatuto do Torcedor, que trata da venda de ingressos de evento esportivo por preço superior ao estampado no bilhete.
Torcidas banidas dos estádios
Uma força-tarefa envolvendo oito delegacias especializadas da Polícia Civil passou a atuar no Rio em agosto no combate aos crimes praticados por torcidas organizadas. A medida foi anunciada depois de 23 torcedores do Fluminense terem sido flagrados espancando e assaltando dois torcedores do Vasco, no Engenho de Dentro.
Atendendo a uma representação da chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, a Justiça do Rio baniu dos estádios este ano as torcidas organizadas Young Flu e Torcida Jovem Fla. Em agosto também, uma briga generalizada entre torcedores de Flamengo e Vasco deixou um homem morto em Tomás Coelho.
No início deste mês, um torcedor do Flamengo foi condenado pelo Tribunal do Júri de Niterói à pena de 18 anos de prisão, em regime fechado, por seis tentativas de homicídio qualificado e por formação de quadrilha armada.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/tj-adota-medidas-para-conter-torcidas-violentas-6207045#ixzz27epzDAl5
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