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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ESPECIALISTA EM DESENVOLVIMENTO URBANO DESTACA QUESTÕES ESSENCIAIS PARA QUE CIDADES APROVEITEM OS EFEITOS DA COPA


Pablo Vaggione compara Mundial a uma “vitamina” e acredita que sedes de 2014 sabem que impulso gerado pelo evento pode ter efeito duradouro

Por Gabriel Fialho

A oportunidade de sediar a Copa do Mundo pode ser uma grande “vitamina” para impulsionar um novo espaço urbano nas cidades brasileiras que receberão as partidas do Mundial. Tal fortificante pode ser tomado durante um mês, período do evento, ou por vários anos. Quem faz o diagnóstico é o arquiteto, especialista em desenvolvimento urbano, Pablo Vaggione, também membro da Organização das Nações Unidas para Assentamentos Urbanos (UN-Habitat).

Convidado do seminário “Copa 2014: Oportunidades para a sustentabilidade urbana” (confira cobertura completa), organizado pelo Ministério do Esporte em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Brasília, Vaggione fez uma análise das apresentações de 21 projetos das 12 cidades-sede da Copa do Mundo no encerramento do evento. “Primeiro temos que entender que estamos diante de uma grande diversidade de cidades. Elas têm enfoques diferentes, veem a oportunidade de formas distintas, pois cada uma tem suas circunstâncias”.

Em entrevista ao Portal da Copa, ele explicou que há cidades mais interessadas em realizar projetos sistêmicos, que irão transformar boa parte da configuração e dinâmica urbanas, enquanto outras estão mais preocupadas com projetos de incremento, que irão melhorar pontualmente questões consideradas prioritárias, mas ambos podem ser igualmente importantes para as capitais. O essencial é saber “como relacionar um tipo de projeto ao outro com uma visão mais duradoura e com envolvimento da comunidade”.

Qual a diferença entre projetos de incremento e sistêmicos?
O projeto de incremento é aquele que objetiva uma pequena melhora no sistema, ou seja, fazer mais uma avenida, melhorar as linhas férreas, ou incluir mais trens. Um projeto sistêmico é aquele que tem mais perspectiva e modifica os elementos do sistema para conseguir uma solução mais duradoura. É importante deixar claro que não se trata de uma briga entre um tipo de projeto e outro. Os dois podem ser compatíveis e a aproximação dos projetos, acredito, seria muito útil para a cidade. Antes de se pensar nas definições dos projetos, há que se pensar no tipo de projeto que se quer, de incremento ou sistêmico? Um projeto de incremento tem diferença em relação ao custo, duração e impacto. O projeto sistêmico é de longo prazo, requer mais investimentos, mas também pode ter efeitos mais duradouros.

Como fazer com que a cidade tenha um projeto urbanístico que melhore a qualidade de vida da população?
Eu acredito que esse pode ser um dos principais pontos de legado da Copa do Mundo. É claro que tem que haver projetos de incremento, pois são aqueles que podem atacar pontualmente um problema, mas para realmente transformar uma cidade em uma cidade sustentável, necessitamos de um projeto sistêmico. Então, não se trata de ignorar os projetos de incremento, mas de como relacionar um tipo de projeto ao outro com uma visão mais duradoura e isso nos ajudaria rumo a uma transformação. Ainda temos dois anos para a Copa. Então, quando falamos de legado, creio que os ministérios, o BID, poderiam pensar em alguma forma de unir esses projetos de incremento para que de alguma forma sejam elementos de transformação real e de longo prazo para as cidades.

O que deve ser considerado para que haja uma continuidade das ações pós-eventos, como a Copa do Mundo?
O legado não é algo que se pensa quando termina o último jogo do Mundial. O legado pode ser pensado desde agora e pode ser construído coletivamente. A capacidade de aglutinar as pessoas, fazer com que participem, a criação de uma visão e de um entendimento de como os projetos de incremento podem de alguma forma ser simbióticos e ajudar a transformar a cidade, já é um grande legado. O legado não é um tijolo, pode ser uma forma de pensar, facilitar a colaboração, a criação de ideias em conjunto, dentro de um marco que estruture o todo. Isso é planejamento urbano.

Isso seria um eixo transversal?
Isso é uma forma de fazer com que todos os atores pensem transversalmente, claro, essa é uma forma de localizar as distintas relações entre os atores, para que não trabalhem isoladamente, mas em conjunto. Isso vai propiciar melhorias nos projetos, sendo mais adequados aos usuários e com melhor utilização dos recursos econômicos e naturais.

Quais aspectos devem ser levados em consideração para que os projetos sejam bem desenvolvidos e o planejamento seja bem feito?
O pensamento transversal é fundamental. As cidades têm que entender que antecipar o futuro ajuda a melhorar o presente. Um gestor que consegue com que a sua comunidade pense em conjunto no futuro terá mais condições para entender quais os pequenos passos deve dar no dia a dia para ir caminhando em linha reta rumo a esse futuro e não dando voltas, o que seria uma perda de tempo e recursos, que somente geraria conflito.

As cidades-sede brasileiras estão preparadas para aproveitar a “vitamina” que é o Mundial?
Eu acredito que as cidades sabem que a Copa do Mundo é uma vitamina e as cidades sabem que essa vitamina pode ser tomada por apenas um mês ou por vários meses. Creio que elas entendem que o objetivo não é tomar a vitamina por apenas um mês, mas ter a oportunidade de tomá-la continuamente. E como se consegue isso? Com planejamento, com parcerias, intercâmbio de ideias entre as cidades e acho que elas estão preparadas para estender os benefícios da Copa para além do próprio evento em si.

Fonte: http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/especialista-em-desenvolvimento-urbano-destaca-questoes-essenciais-para-que-cidades

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