Secretário-geral da Fifa vem ao país na próxima semana
Milhões deverão ir para o esporte após o torneio
Por Jorge Luiz Rodrigues
JOHANNESBURGO - Em viagem à capital sul-africana para assistir à rodada de abertura da Copa Africana de Nações e anunciar os primeiros beneficiários do fundo de investimento de lucros de 450 milhões de rands (R$ 103 milhões ou US$ 50,7 milhões) da Copa do Mundo-2010, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke não tira o Brasil dos pensamentos. Daqui a uma semana, o dirigente desembarcará no Rio para uma visita de quatro dias, que incluirá as comemorações da marca de 500 dias para o jogo de abertura da Copa do Mundo-2014, ao lado da presidente Dilma Rousseff, no Estádio Nacional de Brasília, no próximo dia 28. O francês diz ser importante começar a discutir com autoridades do futebol e do Governo como será a aplicação desses lucros milionários no futebol brasileiro.
- Ainda é cedo para saber quanto será em relação ao Brasil; se serão US$ 80 milhões, US$ 90 milhões, o que seja, mas considero importante começar a se pensar nisso desde já para se trabalhar num plano amplo – revelou Valcke, na última sexta-feira, ao GLOBO, em Johannesburgo.
O secretário-geral da Fifa explicou que o programa de legado do Mundial se dá em dois níveis. O primeiro é referente aos investimentos feitos pelas cidades, pelos estados e o Governo Federal para a Copa do Mundo-2014. São as infraestruturas em estádios, aeroportos, segurança etc, que têm impacto na vida do cidadão.
- Isso melhora a vida dos brasileiros de cada cidade-sede e, talvez, de todo o país. Parece simples, mas tornará menos complicado, entre outras coisas, viajar de Manaus a Porto Alegre, ao contrário do que ocorre hoje – disse o dirigente.
Segundo Valcke, o segundo nível se refere ao legado de um programa de futebol. Essa é a principal tarefa da Fifa e do Comitê Organizador Local (COL-2014):
- É necessário um programa para desenvolver ainda mais o futebol por todo o país. Eu quero me sentar com o Comitê Organizador Local (COL-2014) e com Aldo Rebello (ministro dos Esportes) para discutir o que devemos esperar do Brasil em termos de legado de futebol. Não estamos falando apenas de estádios, de infraestrutura, mas, também de tratar com o Brasil sobre futebol. Depois da Copa do Mundo-2014, haverá dinheiro para o Brasil. Não sei quanto dinheiro, mas sei que haverá muito dinheiro.
Temos que usar no desenvolvimento do futebol no Brasil. Pode ser em escolinhas, pode ser em mais projetos, mas precisamos conversar e estudar isso muito bem. Valcke lembrou que o Comitê de Legado da África do Sul investirá boa parte dos mais de US$ 50 milhões que recebeu da Fifa em programas de desenvolvimento do futebol.
- É preciso trabalhar a base, criar ligas de jovens, porque uma seleção nacional não se torna forte do nada. É necessário ter projetos e desenvolvê-los. Os Bafana Bafana só serão grandes quando tiverem uma base jovem forte – afirmou.
Diretor Executivo do COL-2010 e atual presidente do Comitê de Legado sul-africano, Danny Jordaan anunciou sexta-feira que os primeiros 56 milhões de rands (US$ 6 milhões ou R$ 12,86 milhões) começarão a ser alocados para 973 beneficiários, entre 4.347 concorrentes que apresentaram projetos através do site oficial (www.2010legacytrust.com). Os 394 milhões de rands restantes estão aplicados em três bancos sul-africanos “para assegurar que o dinheiro dure o maior tempo possível” durante as outras fases de desenvolvimento do projeto.
Paralelamente à aplicação das verbas, a segunda fase de inscrições começará em julho deste ano para contemplar mais trabalhos. Os primeiros projetos aprovados consistem em 24 trabalhos para capacitar com estudo os atuais e os futuros administradores do futebol sul-africano, num total de 500 mil rands (R$ 114,9 mil). Outros 6,5 milhões de rands (R$ 1,49 milhão) serão investidos em 33 projetos de treinamento de profissionais de saúde, educação física, fisiologia e afins, em parceria com a tradicional Universidade Wits, de Johannesburgo. Fechando a primeira fase, mais R$ 49 milhões de rands (R$ 11,3 milhões) irão para projetos de criação de uma liga nacional feminina, de campeonatos nacionais masculinos sub-13 e sub-15 de futebol, além de ligas nacionais de futsal e de futebol de areia, fornecendo verbas e equipamentos a associações regionais, clubes e escolas.
Inicialmente, os sul-africanos receberiam cerca de US$ 78 milhões (692 milhões de rands ou R$ 159 milhões) de lucros repassados pela Fifa, mas gastaram quase US$ 28 milhões (R$ 57,1 milhões ou 248 milhões de rands) em ônibus, para o transporte de seleções e times, e de carros para os administradores. Perguntado sobre esse custo exorbitante, Danny Jordaan retrucou.
- Um problema-chave neste país é o transporte – justificou o dirigente sul-africano. – A falta de transporte público prejudica nossas ligas, congestiona o tráfego no dia a dia do cidadão. Uma das razões pela qual nossas ligas e cidades estão em colapso é a falta de transporte. Então, foi preciso comprar mais ônibus e carros. Aqui, não há trens em abundância. Isso aqui é a África do Sul, não a Alemanha.
Para repassar ao futebol de sul-africano mais de US$ 50 milhões, a Fifa arrecadou com contratos e patrocinadores da Copa do Mundo-2010 mais de US$ 3,65 bilhões (R$ 7,44 bilhões ou 32,4 bilhões de rands), gastando desse montante US$ 1,28 bilhão (R$ 2,61 bilhões ou 11,4 bilhões de rands) com a organização do Mundial. Já o governo do país investiu mais de US$ 3 bilhões (R$ 6,12 bilhões ou 26,6 bilhões de rands) em infraestrutura.
* O repórter viajou a convite do South África Tourism
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/esportes/valcke-quer-discutir-com-brasil-uso-do-lucro-do-mundial-7347967#ixzz2IYOSm4XW
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