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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Número 2 da Fifa foi consultor do Brasil na candidatura para a Copa


Por SÉRGIO RANGEL

Homem forte da Fifa, entidade que comanda o futebol mundial, o francês Jérôme Valcke assina contratos, estipula prazos e faz cobranças para organizar a Copa que ele mesmo ajudou a conceber.

O atual secretário-geral da entidade atuou como consultor da campanha que permitiu ao país ser escolhido para sediar o Mundial de 2014. Até então, não se sabia de sua conexão com a campanha, chefiada por Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

A participação de Valcke na candidatura ocorreu no primeiro semestre de 2007. No período, ele ficou fora da Fifa por seis meses, depois de a entidade ter sido multada em US$ 90 milhões por uma negociação, comandada por ele, envolvendo a Visa e a MasterCard.

Após formatar a candidatura e fazer lobby pelo Brasil na Fifa, Valcke participou, em 2007, da reunião do Comitê-Executivo que escolheu o país como sede da Copa. Embora não tenha direito a voto, Valcke atuou junto aos integrantes do comitê em favor da candidatura.

Em e-mail obtido pela Folha, intitulado "Proposta de Consultoria da Candidatura" e enviado em 12 de fevereiro de 2007 para o e-mail que Teixeira usava na CBF, Valcke definia as suas funções no comitê de candidatura e apontava 11 temas sobre os quais prestaria consultoria.

Na proposta, ele diz que participaria de apresentação aos membros do Comitê-Executivo. A Folha apurou que o francês cobrou cerca de US$ 100 mil pelo trabalho. Meses depois, ele voltou à Fifa.

A Colômbia também pleiteava receber o Mundial. Em abril de 2007, seis meses antes da decisão da Fifa, o país desistiu da disputa, e o Brasil foi candidato único.

ENTRA E SAI DA FIFA

Em dezembro de 2006, Valcke deixou a Fifa após a Justiça dos EUA tê-lo considerado culpado por uma negociação de patrocínio com a Visa. De acordo com a corte de Nova York, Valcke, o então diretor de marketing e TV da Fifa, teria violado a cláusula de prioridade da MasterCard, parceira da entidade.

Apesar da multa, Valcke retornou em junho de 2007 como secretário-geral. O posto é o mais importante abaixo do presidente na Fifa, Joseph Blatter. Historicamente é o representante da entidade nas organizações dos Mundiais.

A Folha apurou que Teixeira, à época forte nos bastidores da entidade, articulou o retorno do parceiro. Quatro meses depois, o Brasil foi escolhido pelo Comitê-Executivo como anfitrião da Copa de 2014.

E-MAILS

No e-mail, em que Valcke chama Teixeira de "querido", o francês diz que poderia ajudar a criar o comitê nacional e até cuidar dos patrocínios e das finanças do projeto. Em vários pontos, ele afirma que seria o intermediário do Brasil na Fifa e que definiria a estratégia para convencer o governo brasileiro a querer fazer a Copa.

Na mensagem, Valcke afirma que poderia aconselhar os brasileiros nas "apresentações dos documentos da candidatura brasileira e nas apresentações aos membros do Comitê-Executivo nas fases intermediárias ou na apresentação final à Fifa".

Sobre as questões financeiras, o cartola informa que poderia aconselhá-los em cinco pontos, incluindo a preparação do orçamento do Mundial e da Copa das Confederações.

Uma semana antes de encaminhar o e-mail, o francês se reuniu com a cúpula da candidatura brasileira em São Paulo. Ele chegou à capital paulista de manhã e deixou o país no fim da tarde. A proposta do francês foi aceita em seguida.

Em março do ano passado, Valcke irritou o governo brasileiro ao declarar que o Brasil merecia "um chute no traseiro" pelo atraso nas obras do Maracanã. Após dizer que a reação brasileira foi "infantil", ele se desculpou.

O secretário-geral da Fifa, que está no Brasil para vistoriar as obras do Mundial, se reunirá, no Rio, com integrantes do Comitê Organizador Local da Copa.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/1222598-numero-2-da-fifa-foi-consultor-do-brasil-na-candidatura-para-a-copa.shtml

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