Por Bruno Doro e Vinicius Konchinski
O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) comprou briga com a comunidade científica brasileira no final de 2012. No centro do debate, o termo Olimpíadas, usado por instituições educacionais para chamar a atenção para competições de matemática ou história, por exemplo. Para a entidade esportiva, o uso da palavra só pode ser feito com sua autorização. Para professores e cientistas, o termo é universal e não pode ter um dono. A repercussão negativa das cobranças do COB, porém, deve fazer com que ele desista dos direitos exclusivos sobre o termo e permita o uso para fins educacionais.
O estopim do problema foi uma carta assinada por advogados do COB, datada de 31 de agosto de 2012. Nela, a entidade notifica judicialmente o Museu Exploratório de Ciência da Unicamp, organizador das Olimpíadas de História do Brasil, que estão em sua quarta edição, pelo uso irregular de “Olimpíadas”. Antes, eventos similares, como as Olimpíadas de Matemática e de Astronomia já tinham passado pelo mesmo problema.
No início do mês, duas importantes entidades científicas se uniram para reclamar das ações do COB. A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) enviaram uma carta conjunta, endereçada ao presidente do COB e do Comitê Organizador dos Jogos do Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman.
“A SBPC e a ABC não concordam com a decisão do COB de ter a exclusividade do uso da palavra ‘olimpíada’, pois significará um retrocesso trazendo em prejuízo a todas as tradicionais olimpíadas educacionais (matemática, ciências, língua portuguesa, química, astronomia entre outras) que se realizam no Brasil há anos”, diz o comunicado.
Em contato com a reportagem, Helena B. Nader, presidente da SBPC, foi ainda mais categórica ao falar da notificação. “O Olimpo não nasceu junto com o esporte. Se alguém quer o direito sobre a palavra, deveriam ser os gregos. Olimpo é uma montanha onde moram os deuses, onde todos almejam chegar. Olimpíada de matemática, história ou ciências não é competição. É algo maior. É a busca pela superação dos limites, não só dos limites físicos. O COB deveria se envergonhar de discutir uma coisa dessas. Receber uma Olimpíada esportiva é uma honra, mas receber Olimpíadas de matemática ou de ciências é tão importante quanto”.
No texto enviado à Unicamp, uma das justificativas para a proibição era a função do COB em controlar o uso dos termos ligados aos Jogos Olímpicos, exigência do Comitê Olímpico Internacional (COI). Essa justificativa, segundo os cientistas, esbarra no modus-operandi do COI com olimpíadas educacionais internacionais.
“No Brasil, querem controlar a palavra. Eu aceitaria se em Londres tivesse acontecido o mesmo. Mas lá, os próprios organizadores se uniram com as instituições de ensino e fizeram uma série de olimpíadas de conhecimento para aproveitar o sucesso das Olimpíadas. Além disso, existem Olimpíadas de Matemática, de Ciências, de Astronomia, e nenhuma delas teve problemas com o COI”, afirma Helena.
Medalha de ouro no Irã
Outro argumento dos cientistas é a importância das olimpíadas nacionais já existentes. Recentemente, Matheus Camacho, de 14 anos, aluno de uma escola de São Paulo, conquistou em Teerã, no Irã, a medalha de ouro da Olimpíada Internacional de Ciências, concorrendo com estudantes de 28 países.
Outro exemplo desse sucesso é a Olimpíada Nacional de Matemática das Escolas Públicas. “É um evento de dez anos, atinge 99% das escolas brasileiras da rede publica e descobre talentos excepcionais. Essa discussão tem ser muito clara. Eu vou lutar até o fim. Posso perder, mas não vou desistir”, completa Helena.
Olimpíadas escolares mudam de nome
Coincidentemente, nesta quinta-feira o Comitê Olímpico Brasileiro anunciou uma mudança no nome de uma de suas competições, também envolvendo o termo em disputa. As Olimpíadas Escolares, realizadas pela entidade desde 2005 com jovens de 12 a 17 anos, passarão a se chamar Jogos Escolares da Juventude. Segundo o comunicado, essa mudança foi feita para seguir o conceito do COI com os Jogos Olímpicos da Juventude.
“Olimpíadas Escolares”, porém, seguirá como propriedade do COB, que tem dois registros da expressão. Outros termos parecidos também são da entidade, como “Olimpíadas Colegiais”, “Olimpíadas Universitárias” e “Olimpíada Estudantil”.
Mudança de posição
Procurado pelo UOL Esporte na quinta-feira, COB, entretanto, informou que já admite liberar o uso do termo Olimpíadas para fins educacionais. Essa autorização já está em discussão com o COI. Se for dada, beneficiária, por exemplo, a Unicamp.
“O Comitê Olímpico Brasileiro está estudando, em conjunto com o COI, a possibilidade de autorizar a utilização do termo para fins propostos”, declarou o COB. “Tão logo tenhamos um posicionamento quanto ao tema, a Unicamp será comunicada.”
Na mesma nota, o COB explicou que a mudança do nome das Olimpíadas Escolares foi feito por causa de uma solicitação do COI no ano passado. Segundo o comitê brasileiro, os símbolos e designações olímpicas são uma propriedade do comitê internacional.
Fonte: http://esporte.uol.com.br/rio-2016/ultimas-noticias/2013/01/18/cob-tenta-tirar-termo-olimpiada-de-competicoes-educacionais-mas-deve-voltar-atras.htm
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