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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sacada olímpica


O Minas Tênis Clube implantou um modelo de gestão que pode virar referência na área esportiva.

Por Rafael Freire

O Brasil conquistou cinco Copas do Mundo de Futebol, ganhou duas vezes o Campeonato Mundial de Vôlei e de Basquete e avança com rapidez em alguns esportes olímpicos. Essas glórias esportivas, no entanto, não podem ser creditadas aos méritos de gestão dos clubes brasileiros. Eles têm um estilo de gerenciar que beira ao amadorismo, com cartolas que se assemelham aos antigos coronéis nordestinos pela forma imperial de mandar. Um exemplo dessa má administração é o R$ 1,8 bilhão que os 14 maiores clubes de futebol do País em receita devem aos cofres públicos, segundo a consultoria esportiva Pluri, de Curitiba. 

Profissionalização é uma palavra que não existe no dicionário da cartolagem que dirige essas agremiações. Uma rara exceção é o Minas Tênis Clube, de Belo Horizonte, que possui um contingente de 73 mil associados e 980 atletas federados. Reconhecida como uma das maiores formadoras de talentos do esporte brasileiro, o Minas Tênis criou uma estrutura de gestores profissionais para tocar o dia a dia do clube e as atividades esportivas em 2010. A lógica é empresarial. A diretoria executiva, formada por 23 associados não remunerados, passou a atuar como um conselho de administração de uma empresa. 

Os cargos executivos foram totalmente ocupados por profissionais do mercado, contratados, inclusive, por empresas de recrutamento. O principal deles é o superintendente executivo Antônio Lage Filho, ex-diretor da Telesat Canadá. Ele pode ser considerado o CEO do Minas Tênis, pois é responsável por administrar 17 outras gerências e se reporta diretamente aos diretores do clube. “Tive­mos que quebrar aquela cultura de que o dirigente associado é o gestor”, diz Sergio Bruno Zech, presidente do Minas Tênis, que pela estrutura poderia ser chamado de chairman do clube. O plano de gestão do Minas Tênis também teve como um de seus pilares a implantação de um sistema de metas que avalia o desempenho de cada área e de cada profissional, além de indicar o nível de satisfação dos sócios. 

Os funcionários que alcançarem as metas recebem um 14º salário. Os R$ 3 milhões investidos nessa folha de pagamento adicional, no entanto, não saem da receita do clube, que foi de R$ 81,7 milhões em 2011, mas do caixa gerado com as economias proporcionadas pelas metas. “Trabalhamos como uma empresa, mas nosso foco está na satisfação dos sócios e não no faturamento”, diz Zech. Na visão de Raul Corrêa da Silva, presidente da BDO Brazil e vice-presidente de finanças do Corinthians, essa foi uma decisão acertada do Minas Tênis. Em sua opinião, o crescimento de um grande clube obrigatoriamente passa pela profissionalização de sua gestão. 

“Os cargos operacionais devem ser exercidos por profissionais do mercado, pois sem remuneração é difícil se dedicar integralmente”, afirma Corrêa da Silva. Na área esportiva, uma das metas do Minas Tênis é ampliar para R$ 16,5 milhões o valor recebido em patrocínios, 13% a mais do que o arrecadado em 2011. A responsabilidade para alcançar essa meta é do ex-jogador da seleção brasileira de basquete e atual gerente de marketing e negócios do clube, Marcelo Vido. Uma de suas apostas é o fortalecimento da marca da agremiação fora do Estado. Em novembro de 2011, o executivo fechou uma parceria com a agência Fragata Marketing de Entreteni­men­to para prospectar patrocínios em São Paulo. 

Outro objetivo do executivo é buscar apoios para a modernização do estádio Arena Vivo. “Queremos deixar nosso estádio semelhante aos da liga de basquete americana”, diz Vido. Ele afirma já estar negociando a montagem do novo sistema de iluminação do estádio com a holandesa Philips. A profissionalização trouxe resultado também para a área esportiva. Os atletas formados no Minas Tênis já conquistaram quatro medalhas de bronze em Jogos Olímpicos. Esse quadro pode aumentar ainda este ano. Afinal, pelo menos, seis minastenistas vão disputar a Olimpíada de Londres: cinco na natação e um no judô.

Fonte: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/87226_SACADA+OLIMPICA

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