Por Silvestre Cirilo
Em 1992, foi realizado a ECO 92
ou Cúpula da Terra, evento que teve como principal objetivo a discussão sobre o
desenvolvimento sustentável ou, aquele desenvolvimento que se valha da proteção
ao meio ambiente e dos recursos não renováveis. Compromissos foram assumidos e
documentos foram redigidos. No entanto, o crescimento desordenado e a
ineficácia em cumprir o que foi proposto trouxeram a tona com mais veemência as
discussões acerca do desenvolvimento sustentável nesse início de século XXI.
O foco da Declaração do Rio,
documento final da Cúpula da Terra, foi dividido em quatro eixos:
-
as dimensões sociais e econômicas do desenvolvimento sustentável;
-
a conservação e a gestão de recursos orientados para as finalidades do
desenvolvimento;
-
o fortalecimento do papel dos mais desfavorecidos;
-
os meios de execução.
Tal documento não foi concebido
como uma receita ou um modelo a ser seguido, mas, sim, servir como um guia para
as instituições que procuram elaborar a sua própria proposta. Em relação ao
esporte, o Comitê Olímpico Internacional (COI) elaborou o seu próprio
documento, baseado em três dimensões:
-
a melhoria das condições sócio-econômicas;
-
a conservação e gestão dos recursos para um desenvolvimento sustentável;
-
o fortalecimento do papel dos principais grupos envolvidos.
A palavra de ordem passou a ser a
promoção da cooperação em prol de um bem comum, garantindo o acesso às minorias
e a gestão dos recursos escassos. Entretanto, com o afloramento da globalização
e, conseqüentemente, do capitalismo, como manter essa política de cooperação em
prol da lógica dos lucros? Como realizar o combate da exclusão social sem
alimentar o uso político? Como levar o esporte a todos sem que se valham do
viés econômico como condutor dessa ação?
O COI se vale do apoio das
Federações Internacionais e dos Comitês Olímpicos Nacionais para a disseminação
do desenvolvimento sustentável junto aos praticantes de esporte, valendo-se da
penetração deste em todos os segmentos da sociedade. No entanto, como seria possível levar tais
ações a todos se não temos um sistema esportivo robusto, que suporte tais ações
e ajude na disseminação local, se o nosso sistema não contempla a interação
entre a educação física e o esporte e, além disso, não aprendemos sobre a
sustentabilidade durante a nossa formação profissional.
A questão do meio ambiente parece
ser uma das mais complexas quando relacionada ao esporte, pois a lógica da
expansão de infraestrutura vem se sobrepondo à lógica da racionalidade,
principalmente quando se fala em megaeventos. E, especificamente falando do
Brasil, o planejamento por parte da administração pública, principal ente
quando falamos de infraestrutura e manutenção da ordem pública, ainda se mostra
incipiente em mostrar eficiência nas suas ações em prol da sustentabilidade
quando o assunto é o esporte.
Ainda não estamos preparados, por
exemplo, para a execução de um plano de transporte público para um simples
evento esportivo, que são aqueles que acontecem no nosso cotidiano,
principalmente os que são realizados em horário noturno. E, o que dizer, então,
sobre as competições geradas a partir dos municípios, o principal gerador de
ações na cadeia produtiva do esporte.
O último ponto abordado na Agenda
21 do COI é a inclusão das minorias, principalmente jovens e mulheres. Essa é
uma questão aparentemente resolvida na agenda do COI, pela dependência da
existência de competições nos naipes masculino e feminino e os Jogos Olímpicos
da Juventude. Entretanto, no mundo real, ainda não se evidenciou uma fórmula
para que este problema seja totalmente resolvido. Desde a base o problema
perpassa por questões culturais e socioeconômicas, evidenciadas através da
adoção de padrões corporais e a diferença de poder aquisitivo que, por vezes,
causam desconforto na convivência entre diferentes grupos e acabam por formar
guetos. E claro que tal descrição não é uma regra, mas deve ser observada para
que a inclusão social ocorra. Cabe ressaltar que essa inclusão social deve ser
pensada não só no sentido da classe econômica, como vem sendo trabalhada
exaustivamente nos diversos níveis de governo.
Para que o esporte se torne
sustentável, ou o mais próximo disso, é necessário que haja a militância nos
diversos setores envolvidos com esta prática. A discussão entre o esporte e a
sustentabilidade deve vir desde a formação profissional, internalizando
conceitos e multiplicando o conhecimento. No entanto, esta prática ainda está
longe de acontecer no Brasil. Outro fator a ser destacado são as condições da
prática esportiva no país, não havendo um padrão ou linearidade que possa
servir como parâmetro para a inserção de itens propostos para a
sustentabilidade.
No Brasil, uma questão que vem se
tornando um grande problema é a Lei N° 8.666/93 (Lei das Licitações) e quem a
executa, que acaba privilegiando apena o menor preço em detrimento de um melhor
custo-benefício e de itens que venham agregar valor ao longo do tempo. Por que
não realizar um projeto de construção de um equipamento esportivo com itens
voltados à sustentabilidade? Apenas por tornar o projeto mais caro? E os
benefícios angariados com o passar dos anos, assim como a economia gerada na
manutenção desse equipamento, não valeriam à pena?
O último ponto a ser destacado é
a governança do esporte no Brasil no que tange a sua regulação. A construção do
sistema esportiva no país é confusa e não contemplam Estados e Municípios com
ações concretas, pois a estes são facultadas a constituição de um sistema
próprio. Isso acaba levando a uma ótica de que o esporte funcione como uma
moeda de troca e exposição política em detrimento de um trabalho mais técnico e
preocupado com as ações duradouras de sustentabilidade.
Devem-se discutir permanentemente
tais questões juntos aos interessados, seja través de fóruns permanentes, seminários,
palestras, grupos de pesquisa e outras formas de abordagem do tema e, a
transformação em prática de toda a teoria levantada nesses espaços. Essa
convergência talvez seja o passo mais importante para a evolução do esporte no
sentido da sustentabilidade.
Caro Silvestre,
ResponderExcluirParabéns pelo texto, que expõe o panorama da gestão do esporte e a sustentabilidade c/ clareza.
Gostaria de acrescentar o papel das empresas neste processo, seja como patrocinadoras, agentes que impactam fortemente os recursos naturais ou mesmo educadoras e transformadoras da maneira como vemos o meio ambiente.
Integrar tantos e diversos interesses é um enorme desafio, não acha?
Grande abraço,
José Vicente Ambrósio