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domingo, 7 de outubro de 2012

Lições olímpicas: em Atlanta, revitalização e caos no trânsito


Cidade-irmã do Rio recuperou centro antigo e degradado, não herdou dívidas

RIO - A população de Atlanta não supera os 400 mil habitantes, mas a região metropolitana soma quase quatro milhões, o que aproxima sua realidade à do Rio. As duas sedes olímpicas são cidades-irmãs, conceito criado para instituir parcerias entre governos de municípios com características parecidas. O Rio poderá aprender com Atlanta tanto o que não fazer para receber as Olimpíadas como o que aproveitar em termos de legado.
Um dos principais problemas que Atlanta ofereceu a turistas, jornalistas e até atletas é também um dos maiores desafios cariocas: o trânsito. Com grande parte dos locais de competições concentrada no centro da cidade, o sistema de transporte de massa fracassou.
Para as Olimpíadas, o Marta (Metropolitan Atlanta Rapid Transit Authority), metrô subterrâneo e de superfície que circula em cinco linhas (38 estações) na cidade, foi ampliado, mas esteve longe de funcionar a contento, com constantes atrasos. O deslocamento por ônibus também foi caótico, com muitos engarrafamentos, motivados principalmente pela confluência das linhas para um mesmo destino. Mesmo andar a pé próximo às instalações esportivas foi difícil devido ao excesso de barracas de venda de produtos ligados aos Jogos, marcados por forte presença dos patrocinadores.

A Olímpíada ‘privada’
Ao contrário das outras edições recentes das Olimpíadas, o evento em Atlanta foi quase integralmente financiado pela iniciativa privada. O investimento de empresas, somado à arrecadação com venda dos direitos de transmissão pela TV e dos ingressos para a competição, bancou quase na totalidade os US$ 4 bilhões consumidos pelos Jogos.
A fama de “Olimpíada privada” rendeu críticas a Atlanta desde sua escolha como cidade-sede — o lobby de empresas como a Coca-Cola e a rede CNN, que têm matriz na cidade, teria sido decisivo na opção do COI por nova cidade americana apenas 12 anos depois dos Jogos de Los Angeles. Berço das Olimpíadas, a grega Atenas era a favorita na disputa porque em 1996 completavam-se cem anos dos Jogos da Era Moderna.
Se o fato de ter poupado os cofres públicos pode parecer uma virtude, principalmente aos olhos de um país onde o empenho das verbas governamentais vem sendo questionado, como no caso do Rio, a experiência de Atlanta mostrou que aquele não é necessariamente o melhor caminho. Para a realização dos Jogos, cerca de 68 mil pessoas de baixa renda tiveram de deixar a região central da cidade, no chamado “Anel Olímpico”, área de 3,7km de raio para onde convergiram os principais investimentos. Quem morava na região e acabou tendo de sair não teve o retorno, em qualidade de vida, que as Olimpíadas trouxeram.

Redução da violência
Mas o resultado não foi só de problemas. Com densidade populacional menor, o centro antigo de Atlanta desenvolveu-se urbanisticamente. Os índices de violência caíram progressivamente. Se, no início dos anos 1990, Atlanta frequentava, há três décadas, a lista das cinco cidades mais violentas dos EUA, esse número foi caindo. Até 2010, 14 anos depois dos Jogos, a curva descendente de alguns crimes na cidade era ainda mais acentuada do que no resto do país: o número de assassinatos caiu 57%, segundo dados de 2010 do FBI.
Talvez o exemplo mais positivo de Atlanta seja o bom aproveitamento dos equipamentos construídos para a competição, algo que a cidade carioca não soube fazer após o Pan de 2007. O Centennial Olympic Park mantém-se até hoje como área de lazer e entretenimento, símbolo da revitalização do centro antigo. Foi ali, porém, que um caso de insegurança marcou aqueles Jogos: o atentado terrorista na madrugada de 27 de julho, com duas mortes. Uma torcedora americana foi atingida na explosão de uma bomba, e um cinegrafista turco sofreu um ataque cardíaco.
O estádio olímpico virou a casa do Atlanta Braves, time de beisebol local cujo antigo estádio deu lugar a um grande estacionamento. A Universidade da Geórgia herdou os apartamentos da Vila Olímpica, ocupados por seus estudantes, e também o parque aquático. A reforma completa do Aeroporto Hartsfield-Jackson, beneficiado pela posição geográfica central de Atlanta nos EUA, transformou-o em um hub da malha aérea do país. Em 2011, foi o aeroporto mais movimentado do mundo em número de passageiros: mais de 11 milhões. Um exemplo para um dos maiores passivos do Rio em infraestrutura, o Galeão, hoje ainda longe de atender à demanda de uma cidade olímpica.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/licoes-olimpicas-em-atlanta-revitalizacao-caos-no-transito-6254016#ixzz28cZpnthV 

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