Leonardo Gryner fala sobre desafios do Rio e o que viu durante evento em Londres
RIO - Em 2016, o diretor-geral dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio, Leonardo Gryner, completará 40 anos acompanhando profissionalmente as disputas por medalhas. Muita coisa mudou na organização do maior evento do mundo desde 1976 quando ele desembarcou em Montreal ainda como coordenador da equipe da TV Globo, que cobriu evento. A caminho de testemunhar sua 11ª Olimpíada, agora como um dos principais executivos da festa, Gryner fala sobre os desafios do Rio de Janeiro e o que viu durante o evento em Londres.
Qual a principal lição que ficou dos preparativos e da realização dos Jogos de Londres para o Comitê Organizador Rio 2016?
Na verdade, algo que já vínhamos discutimos desde que começamos a preparar o Rio para receber as Olimpíadas: a importância de se contar com um bom planejamento. Isso inclui estar preparado para lançar mão de alternativas ao que foi planejado inicialmente caso surja algum problema. Em Londres, isso aconteceu, por exemplo, com o sistema de venda de ingressos. O plano A era que o usuário só poderia pegar seu ingresso em bilheterias, para evitar falsificações. Quando observaram que haveria filas, passou-se a permitir que os tíquetes fossem impressos em casa. Isso foi de forma automática: o plano B já estava preparado.
O Comitê Organizador de Londres tinha plano B para tudo? O que o Rio fará?
Em Londres não previram, por exemplo, que poderiam ter problemas na contratação de seguranças da iniciativa privada para cuidar das instalações (a empresa responsável não conseguiu recrutar três mil agentes, e os quadros foram complementados por forças do governo). Em relação ao planejamento, nós começamos com a equipe que cuidará disso com quatro anos de antecedência. Em Londres, isso só começou quando faltavam dois anos e meio para os Jogos. Outra diferença é que nosso projeto é estável. Depois de 31 de outubro agora, não haverá alterações significativas: hoje só falta definir se as partidas de rúgbi serão mesmo no estádio de São Januário ou em outro local. Em Londres, só bateram o martelo sobre a localização de quatro instalações faltando menos de três anos para o evento.
Assim como Londres, os Jogos Olímpicos do Rio têm um projeto com responsabilidades divididas entre a iniciativa privada e diferentes esferas de governo. Como o Comitê Organizador concilia os diferentes interesses?
Nós criamos um sistema de gerenciamento de risco. Todos os projetos são mapeados e acompanhados constantemente. A cada três meses, verificamos as informações sobre o andamento de cada ponto. Existe também uma preocupação do Comitê Organizador com os custos do projeto. Por precaução, trabalhamos com uma reserva de contingência.
Em Londres, um dos problemas foi a estratégia de venda de ingressos para outros países. Milhares de tíquetes foram comercializados para agências, mas a demanda foi superestimada. Competições aconteceram em arenas vazias, apesar de no lado de fora das instalações muita gente tentar comprar ingressos sem sucesso. Qual o plano do Rio para evitar isso?
Esse é um desafio de todos os organizadores dos Jogos Olímpicos e que também vamos nos esforçar para superar no Rio. Ainda vamos definir o plano de vendas de ingressos. Na verdade, esses assentos vazios em Londres foram vendidos a agências de viagem de todo o mundo por intermédio dos comitês olímpicos. O problema é que essa demanda é subjetiva e nem sempre os ingressos são devolvidos a tempo pelas agências para serem revendidos. O fato de fazer as Olimpíadas na América do Sul trará um desafio a mais: é uma realidade completamente diferente de promover o evento na Europa. Qual a carga que vou destinar para um país vizinho ao nosso, como o Equador, e qual será a demanda da Dinamarca, por exemplo? Isso será estudado.
Numa entrevista em Londres, o senhor disse que o maior desafio do Rio para os Jogos seria a infraestrutura hoteleira. Continua sendo?
Existe uma demanda oficial do Comitê Olímpico Internacional (COI) de 40 mil vagas para a família olímpica. Nós nos comprometemos com isso no dossiê da candidatura. Esse não é o problema. Mas há uma demanda adicional por acomodações para a qual teremos que buscar uma solução até o ano que vem. Um exemplo: onde alojar as equipes de segurança e outros prestadores de serviços que vão trabalhar no evento? Isso ainda está em fase de análise pelas nossas equipes.
Em novembro, o COI promoverá uma reunião no Rio para analisar as experiências da organização dos Jogos de Londres. Como será?
As reuniões ocorrerão entre os dias 17 e 21, num hotel na Barra da Tijuca. Todos os detalhes sobre o dia a dia dos Jogos de Londres serão repassados, para ajudar na nossa apresentação. As palestras não serão por setores funcionais, mas por temas. Assim, um painel sobre os serviços para espectadores e mídia vai interessar a várias áreas do Comitê Rio 2016.
O Comitê Rio 2016 teve 150 observadores em Londres. Desses, nove que trabalharam junto ao Comitê de Londres foram demitidos por terem feito cópias não autorizadas de documentos. Isso prejudicou em algo os preparativos do Rio?
Claro que foi prejudicial. O impacto maior foi que esses ex-funcionários acumularam uma experiência na organização das Olimpíadas com que não poderemos contar. No nosso programa, tínhamos três tipos de observadores: os que interagiram, os que só observaram e os que trabalharam diretamente com a equipe que organizou os Jogos de Londres (as demissões ocorreram neste último grupo). O foco principal não era identificar o que foi feito de certo ou errado na organização. Mas ver como as demandas dos vários setores responsáveis pela organização dos jogos eram encaminhadas e resolvidas. Essas situações específicas ajudarão o Rio a se planejar melhor .
Londres fez cerimônias de abertura e encerramento que cativaram o público. O Rio terá condições de fazer eventos tão grandiosos?
É difícil comparar Londres com o Rio. Cada país tem suas peculiaridades culturais e históricas, e as cerimônias são usadas para apresentá-las. No caso dos ingleses, eles mostraram a contribuição que deram ao mundo com a Revolução Industrial e à cultura popular com uma série de bandas e cantores. O Brasil também tem uma diversidade cultural enorme. É um país gigantesco unido por uma só língua. São elementos suficientes para fazermos dez cerimônias de abertura.
Em Londres, os voluntários deram um show de boa vontade que supriu eventuais falhas no atendimento aos visitantes. No Rio, existe um perfil ideal de voluntário?
Contar com um bom programa de treinamento não basta. Os voluntários ideais são naturalmente pessoas motivadas para dar o melhor de si. E acreditamos que tenhamos sucesso no Rio com nosso programa.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/diretor-geral-das-olimpiadas-de-2016-diz-que-quase-todo-planejamento-estara-definido-ate-31-de-outubro-6527765#ixzz2AOCtqbQo
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