Por Erich Beting
Usain Bolt e Lance Armstrong são hoje duas pontas do processo de criação da imagem de um ídolo.
Ontem, no Rio de Janeiro, Bolt mostrou o quão espetacular pode ser. A convite da Puma, sua principal patrocinadora, veio ao Brasil e deu o seu habitual show de simpatia, atraindo a atenção da mídia, criando pautas inusitadas por onde passou e engajando as pessoas em torno dele, que tem tudo para ser o ídolo mais global do esporte desde Michael Jordan.
Por outro lado, o ex-ciclista americano segue com a avalanche de denúncias contra si em relação ao doping e vê sua credibilidade descer em velocidade que nem mesmo ele conseguiria alcançar nos áureos tempos de atleta “limpo”. Tanto que ontem a revista Runner’s World dos EUA publicou que Armstrong deve ter seus registros das maratonas de Boston e Nova York apagados pelos organizadores.
Os extremos em que hoje se encontram Armstrong e Bolt resumem-se a um status que é fundamental para o ídolo. Ser verdadeiro.
O velocista jamaicano é hoje uma figura mundialmente conhecida e admirada exatamente por ser verdadeiro. A maneira como ele se diverte antes de uma prova absolutamente dura como uma final olímpica talvez seja o melhor meio de mostrar o porquê de ele ser tão admirado. Enquanto todos os atletas são vistos como pessoas de sucesso apenas quando estão sérias e concentradas, Bolt contraria a lógica e mostra que é possível ser bom e feliz naquilo que faz. Principalmente porque o comportamento do jamaicano fora da pista é exatamente igual àquele demonstrado dentro dela. A veracidade com que Bolt demonstra viver e competir confere a ele uma aura ainda mais simpática e isso o torna um ídolo muito maior para as pessoas.
E a verdade é um componente fundamental para a construção da imagem de um ícone.
Durante anos Lance Armstrong repetiu o mantra de que não se dopava. Passava pelos testes antidoping sempre limpo, embora o meio do ciclismo dissesse ser impossível para qualquer ser humano competir naquele nível e ter a performance que o americano conseguia. Hoje, esse mundo de fantasia caiu. Foi possível, tardiamente, comprovar um grande esquema de fraude que envolvia o ciclista para mantê-lo aparentemente “limpo”. No fim, todo o discurso de superação e exemplo que Armstrong transmitia foi colocado abaixo. O mocinho virou bandido, e a verdade virou embuste.
Armstrong ainda é mantenedor de um dos principais projetos sociais do mundo no combate ao câncer. Isso é espetacular. Mas, para que mantivesse a sua aura de ídolo, teria sido muito melhor que ele fosse apenas um ciclista mediano que superou o câncer e conseguiu criar um mundo melhor para as pessoas portadoras de uma das mais emblemáticas doenças que aflige o ser humano. A vitória a qualquer custo sempre tem um preço.
E para um ídolo ser verdadeiro, ele tem de saber que não se pode jogar sujo. Qualquer um que tenha lido histórias em quadrinhos na infância deveria saber disso.
Fonte: http://negociosdoesporte.blogosfera.uol.com.br/2012/10/24/a-verdade-do-idolo/
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