Por Erich Beting
O nome já deixa claro. “London Legacy” é um canal de esportes que deverá ser lançado em novembro próximo pela empresa Highflyer Group. O objetivo é abrir espaço para aquilo que os ingleses chamam de “lado B” dos esportes. Ou seja, aquelas modalidades que não estão o tempo todo na telinha e que mostraram, nos Jogos Olímpicos, potencial para justificar a criação de um canal de TV que acompanhe esses esportes.
A ideia é que modalidades como judô, atletismo e ginástica tenham mais espaço na programação esportiva. Segundo John Fairley, responsável pela iniciativa, já existem três patrocinadores interessados em bancar os custos de quase 6 milhões de libras para implementação do projeto.
Uma das discussões levantadas pelo blog durante as Olimpíadas era a da falta de cultura do inglês em acompanhar diferentes modalidades esportivas. Mais ou menos como o brasileiro, em que há um massacre do futebol na grande mídia, o britânico também sofre para acompanhar outros esportes na televisão.
As Olimpíadas serviram como uma espécie de alento e, mais do que isso, de inspiração para mostrar que é possível ganhar dinheiro transmitindo competições esportivas “alternativas”. Essa talvez fosse a maior dúvida do mercado, tanto que a ideia do canal “London Legacy” é aproveitar a brecha deixada pelas grandes emissoras, que continuam com o foco nos programas de maior audiência e, consequentemente, maior retorno publicitário.
E o que impede uma repetição disso no Brasil para, sei lá, novembro de 2016?
O maior entrave, a meu ver, é a já enorme oferta de canais de esporte que temos. Sim, reclama-se muito que falta divulgação dos esportes no país. Mas não podemos dizer que faltam opções. São pelo menos cinco emissoras dedicadas exclusivamente ao tema (ESPN, Sportv, BandSports, Esporte Interativo e FoxSports) e ao todo pelo menos oito canais (sem colocar na lista o ESPN+ e um eventual quarto canal do Sportv). Fazendo uma conta pelo alto, o dia esportivo na TV brasileira pode chegar a quase 200h de programação.
Como abrir espaço dentro do mercado publicitário para custear mais um canal com temática esportiva? Sobra dinheiro no bolo das empresas para isso? Sinceramente, acho difícil.
O caminho para mudar isso, então, tem de partir do esporte. Dentro dessas infindáveis horas disponíveis na televisão para mostrar o esporte, porque vemos produtos relativamente desinteressantes entrarem na grade em detrimento de um conteúdo nacional? Pode parecer engraçado, mas infelizmente é mais fácil (e infinitamente mais barato) exibir um programa de meia hora com o que de melhor aconteceu no Campeonato Português do que um especial de meia hora sobre a Superliga de vôlei.
O esporte no Brasil não se enxerga como produto de mídia. Sirvo-me, aqui, da definição que a NBA (liga de basquete dos EUA) usa para o que ela representa: “A NBA é uma empresa de esportes e mídia que apresenta 3 ligas profissionais de basquete: a NBA, WNBA e a D-League”, diz o texto que consta na página da NBA.
O discurso do pobre coitado que o esporte adora adotar no Brasil reforça, ainda mais, a falta de oportunidade para o crescimento dos demais esportes além do futebol. Em vez de reclamar que ninguém dá suporte, por que os gestores e atletas não passam a entender o que de fato são como produto?
Precisaremos nos assombrar com o alcance de mídia de uma Olimpíada dentro de nosso país para perceber que dá para consumir mais esportes além do futebol. Mas será improvável ter espaço para mais um canal dedicado exclusivamente a esportes no Brasil em 2017. O caminho para que mais esportes entrem na grade de programação das emissoras passa, necessariamente, pela mudança de comportamento dos gestores e dos atletas. E, para isso acontecer, não precisamos dos Jogos Olímpicos.
Fonte: http://negociosdoesporte.blogosfera.uol.com.br/2012/08/21/apos-jogos-londres-tera-canal-com-esportes-lado-b/
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