Por Emerson Gonçalves
Esse post se pretende simples, o mais simples possível, tanto que alguns poderão chamá-lo de simplório. Não é um post sobre contabilidade, quem me dera, é mais sobre “conta de padaria” ou “conta de dona-de-casa”. Simples ou simplório, começarei com uma analogia pobre, mas de fácil compreensão.
Todos nós temos dívidas, sejam de 20 ou 30 anos para a compra da preciosa casa própria, sejam de 30 ou 60 dias no checão pré-datado nos mercados da vida e, claro, os cartões, o cheque especial, o carro, a TV top de linha para ver os jogos do time do coração, e por aí vai. Essas dívidas todas têm juros, explícitos ou implícitos, aparentes ou embutidos, mas têm, estão lá e comem uma parte de sua receita, digo, seu salário. Juros que são chamados de despesas financeiras e também de serviço da dívida.
Você sabe a quanto monta a sua despesa financeira? Qual é o valor do serviço de suas dívidas?
Já que você não sabe ou não quer nos contar, vamos ver o tamanho das despesas financeiras de teu clube.
Despesas financeiras são representadas pelos juros pagos em operações diversas como empréstimos, contas garantidas, financiamentos e outros. É o serviço da dívida, a grosso modo, e os valores correspondentes devem ser lançados nos balanços.
Olhando os balanços referentes ao ano de 2011 dos 13 clubes brasileiros com maior faturamento, encontramos onze lançamentos de despesas financeiras que nos permitem uma visão interessante sobre a gestão de nossos clubes (dois clubes não trazem essas despesas discriminadas). O resumo está na tabela abaixo, mas há um detalhe importantíssimo – nesse ano, as receitas dos clubes foram infladas pelas luvas do novo contrato de cessão de direitos de transmissão:
Mesmo num ano com uma bela alavancagem de receitas como foi 2011, vemos que o conjunto dos onze clubes gastou 10% de suas receitas totais com despesas financeiras. Foram nada menos que 170 milhões de reais que escorreram pelo ralo, como se fora leite derramado na pia. Se tirarmos da conta os valores do Botafogo, que fogem demais da média, os números praticamente nada mudam e passam 13,5% das receitas operacionais do futebol ou 9,6% das receitas totais dos clubes para pagamento de serviço das dívidas.
Não vou entrar no mérito das dívidas. Há dívidas boas e há dívidas nascidas da inconsequência e, não dá para evitar, da incompetência administrativa. Disse-me um amigo do setor financeiro que muitas vezes os clubes preferem atrasar salários para não deixar de pagar o mínimo necessário aos bancos, podendo, dessa forma, continuar rolando, rolando, rolando e, ao mesmo tempo, pegando mais dinheiro, em parte, penso eu aqui no meu cantinho, para pagar os salários que não foram pagos para poder pagar os juros das dívidas anteriores.
Em alguns clubes esse fantasma não nasceu agora, ele já é velho e arrasta suas correntes sinistras pelos corredores de sedes que já foram magníficas há 10, 15, 20 anos. Há poucos anos um vice-presidente de um dos maiores clubes do Brasil queixou-se com amargura desses fantasmas, que muitas vezes apareciam “de repente” e jogavam no lixo todo o planejamento de uma temporada.
Aqui nesse OCE há muitos posts que detalham e exploram aspectos das dívidas dos clubes, tendo por base estudos de empresas de auditoria, como a BDO e a Mazars, portanto não vou alongar-me por esse caminho. Para quem quiser ler ou reler, clique em Balanços 2011 – Análises e Comparações na lista de Categorias do OCE. Uma coisa, porém, é certa: um setor que num ano muito bom consegue jogar fora 10% de tudo que ganha com pagamentos de juros não pode ser um setor que vá bem.
Agora, imagine o teu próprio caso, leitor já chateado, e pense: será correto você gastar 10% de teu salário bruto, ou seja, a tua receita total, com o pagamento de juros? Você paga tudo isso e continua devendo a mesma coisa…
É o que faz o teu clube.
Fonte: http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2012/08/28/o-custo-das-dividas-dos-clubes-brasileiros/
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