Páginas

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O problema está na TV ou nos clubes?


Por Erich Beting

O esporte brasileiro só vai melhorar quando acabar o monopólio da Globo nas transmissões. Essa máxima é repetida sempre que vem à tona o debate “divulgação do esporte pela mídia”. Mas será que realmente o problema está na TV ou em quem é o detentor desses direitos?

Sábado a tabela do Brasileirão reserva dois clássicos para o horário das 18h30, que é aquele programado para a transmissão da TV fechada da rodada da competição: Palmeiras x Santos e Fluminense x Vasco. Em São Paulo, o torcedor tem à disposição apenas o VT de São Paulo x Ponte Preta da semana passada para acompanhar na TV fechada (no Rio o torcedor ficou com o clássico paulista ao vivo).

Quem monta a tabela do campeonato é a CBF, e quem vende a transmissão para a TV são os clubes. Logo, são eles que têm condições para exigir da televisão exibir essa ou aquela partida. Mas qual é a preocupação que os clubes têm com a boa divulgação de seu produto?

Para o povo paulista, a alternativa para ver o clássico estadual é comprar o jogo no pay-per-view. A convidativos R$ 85 pela partida ou então R$ 40 de mensalidade. Logicamente os clubes são sócios da Globo na venda do PPV. Mas até nisso a visão é totalmente deturpada.

Na Europa e nos Estados Unidos, o esporte se apoia no PPV para exatamente ampliar os ganhos com transmissão, que já são altíssimos. Um jogo pela TV comprada não sai por mais do que US$ 30 dólares, e isso aqueles de maior demanda. A lógica é simples. Quanto mais gente comprar, maior será o meu faturamento.

Considerando que atualmente o Brasil tem cerca de 15 milhões de lares com TV a cabo, imagine o que seria mais eficiente. Achar alguns abnegados dispostos a pagar R$ 85 para ver uma mísera partida ou então ganhar no volume? Essa é uma lógica muito usada no mercado esportivo americano, em que os clubes exploram o consumo de massa em detrimento do produto para poucos.

Com o preço já abusivo da TV a cabo no Brasil, o PPV hoje, que já dá lucro para os clubes, poderia ser muito mais rentável para o futebol. Para isso acontecer, porém, não é preciso acabar com o monopólio da Globo, mas sim entender um pouco mais o potencial de geração de riqueza que existe na transmissão do futebol.

Um exemplo simples.

Quando os clubes assinam individualmente com a TV, perdem a condição de fazer um canal próprio de geração de imagens e faturar diretamente com a venda da transmissão pela internet. E isso para todo o mundo! Hoje, no Brasil, o torcedor fã da NFL, da NBA ou até do Campeonato Escocês de futebol pode comprar, por cerca de US$ 10 ao mês, um passe para assistir a todos os jogos do campeonato.

Definitivamente o problema do esporte no Brasil não é o monopólio da Globo, mas a falta de visão do esporte.

Afinal, na era da mídia fragmentada, os produtores de conteúdo não são as empresas de mídia, mas sim os detentores do bom conteúdo. E o esporte, nesse quesito, é um dos maiores produtores de conteúdo do ramo do entretenimento. Mas, é claro, é bem mais fácil jogar o problema na “exigência do detentor dos direitos de transmissão”…

Fonte: http://negociosdoesporte.blogosfera.uol.com.br/2012/08/25/o-problema-esta-na-tv-ou-nos-clubes/

Nenhum comentário:

Postar um comentário