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sábado, 18 de agosto de 2012

O coletivo e a gestão do talento


Por Julio Cezar Pauzeiro* 

Não há a menor dúvida de que participar de uma Olimpíada é motivo de orgulho para qualquer atleta, pois a porta para entrada no pais olímpico é pequena e a de retorno ao país de origem como campeão olímpico é circunscrita a poucos. Falamos de anos de intenso treinamento, muita dedicação, foco, equilíbrio emocional e também — por que não dizer? — de um pouco de sorte.

Naturalmente, podemos tecer vários paralelos sobre o desempenho dos atletas (e países) em função da estrutura de que dispõem para treinar, bem como da gestão de talentos entre outras tantas variáveis. A tarefa é complexa! É neste contexto que gostaria de fazer, como brasileiro e professor, um paralelo do resultado da participação do Brasil na Olimpíada modalidades futebol e vôlei.

Pentacampeão mundial no futebol, o Brasil ainda vai sonhar por mais quatro anos com o título que nos falta: a medalha de ouro. Assusto-me ao ver que “batemos na trave” todas as vezes que tentamos. Com estruturas completamente antagônicas para as seleções masculina e feminina, pergunto se não nos falta estrutura. Falta investimento? Não, se a resposta considerar o futebol masculino; e sim, se considerar o feminino.

No futebol masculino temos ainda outro problema: a gestão de talentos milionários que desfrutam de excelente estrutura e principalmente de remuneração. Todos, sem exceção no time de futebol brasileiro, já estão com a vida financeira resolvida. Não que isso seja um pecado, mas como gerir talentos se lhes falta o coletivo? 

Ao time do México sobrou determinação, aplicação tática e estratégia. Eles treinaram por dois anos, obstinados a conseguir a medalha olímpica que também não tinham. Formaram um time sem estrelas mas com excelente coletivo. No feminino não temos estrutura, reconhecimento, investimentos, tampouco as cifras estratosféricas que são pagas no masculino. Até o uniforme da equipe feminina, por mais incrível que pareça, é diferente do masculino. Elas só podem utilizar um uniforme anterior ao utilizado pela seleção masculina. Inacreditável!

Como esperar que desta forma sejamos campeões olímpicos também no futebol feminino? A diferença entre nosso time de futebol feminino e as campeãs olímpicas encontra-se na estrutura e na gestão, não na entrega de nossas meninas. Simples assim.

No vôlei, também não temos a remuneração superlativa que é paga aos nossos jogadores de futebol, mas temos duas equipes fortes, competitivas, de uma incansável entrega além de uma disciplina na gestão de talentos e das equipes, cujo modelo de gestão e estrutura pode ser facilmente utilizado para outros esportes coletivos e empresas.

Lógico que lidar com talento exige enorme habilidade, especialmente ao desejarmos que o talento componha um grupo extraordinário e coloque o coletivo acima do individual, e — por que não dizer? — de seu ego. A composição da gestão do talento associada ao treino faz toda a diferença, e certamente este é um dos fatores de sucesso das seleções brasileiras de vôlei. Para seus integrantes o coletivo sempre foi, como deveria ser, a soma dos talentos em prol de um objetivo institucional.

Tanto no vôlei masculino como no feminino temos nas duas equipes muitos talentos com alto grau de resiliência e entrega, bem como excelentes técnicos. Certamente, por estes motivos colecionamos vários títulos e alegria no vôlei ao longo da última década.

* Julio Cezar Pauzeiro é professor da Universidade Estácio de Sá, Rio. - julio.pauzeiro@estacio.br

Fonte: http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2012/08/17/o-coletivo-e-a-gestao-do-talento/

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