Por Daniela Milanese
Esperava-se uma cidade caótica, saturada e tensa. Ao invés disso, a capital britânica se mostrou uma sede olímpica organizada, tranquila e alto astral. Ao final dos Jogos, é possível dizer que Londres entregou suas promessas.
A principal receita dos britânicos foi o planejamento. Eles se adiantaram, finalizaram as principais instalações um ano antes da abertura do evento e amarraram a logística. Para ajudar, os atletas da casa engataram a melhor campanha em mais de um século e conseguiram 29 medalhas de ouro – com a contribuição de britânicos de origem em outros países, num destaque do multiculturalismo. Mais ainda: a chuva que azucrinou os londrinos ininterruptamente durante um mês antes da abertura deu lugar a temperaturas agradáveis e dias ensolarados.
Houve contratempos, é claro. O contrato com a empresa de segurança privada G4S falhou e o exército foi convocado às pressas para cobrir o buraco. Os soldados também tiveram de preencher os lugares vazios nos estádios, frutos dos problemas no esquema de distribuição de ingressos do Comitê Olímpico Internacional. A “ditadura dos patrocinadores” irritou até o governo britânico, com diversas situações absurdas para proteger a marca daqueles que colocam dinheiro do setor privado. Teve ainda o embaraço do sumiço das chaves do histórico Estádio de Wembley, palco do futebol.
Para evitar a superlotação dos transportes, a estratégia foi mesmo assustar a população. Era um bombardeio diário de alertas sobre a possibilidade de caos, reforçado até por mensagens gravadas do prefeito de Londres, Boris Johnson, nas estações de metrô.
De fato, as pessoas ficaram em casa, cancelaram compromissos pelo cidade ou foram viajar. Os turistas, como sempre acontece, passaram mais longe da sede olímpica. Assim, foram evitados maiores gargalos e grandes filas no controle de imigração no aeroporto de Heathrow, o mais movimentado da Europa.
O comércio reclamou da paradeira, problema que ganha amplitude em meio à recessão econômica no país. Mas, do ponto de vista dos organizadores, antes duas semanas de vendas mais fracas do que carregar a fama de Olimpíada caótica.
O sistema de telecomunicações, outra preocupação, também deu conta. Para aliviar a rede de celular 3G, foram instalados diversos pontos adicionais de Wi-Fi pela cidade, em acordos com operadoras locais. No Parque Olímpico, o sistema por vezes não se mostrava uma grande maravilha, mas passou sem grandes transtornos.
As mídias sociais revelaram o seu papel na “Olimpíada da tecnologia”. Pela primeira vez, estiveram realmente presentes nos Jogos – em Pequim, além das restrições de acesso, ainda não estavam tão disseminadas. E foram várias as polêmicas via Twitter. Comentários preconceituosos, afastamento de atletas e desentendimentos com torcedores marcaram as duas últimas semanas.
Os 70 mil voluntários descontraíram totalmente o ambiente. Ao chegar aos locais das provas, os torcedores sempre eram recebidos com boas vindas animadas e bom humor. Evitou-se, assim, o clima de tensão com a segurança por vezes exagerada numa cidade alvo de terrorismo – foram instalados mísseis nos tetos de moradores assustados, enquanto um navio de guerra permanecia no Tâmisa.
“O Reino Unido entregou”, resumiu em duas palavras o primeiro-ministro britânico, David Cameron. Realmente, lições para 2016. Mas resta a preocupação com o tão falado legado dos Jogos: a recessão levanta o risco de que a herança seja apenas física e que os cortes de gastos do governo corroam os investimentos em esportes. Para os londrinos, difícil agora será enfrentar a ressaca da realidade de crise a partir desta segunda-feira.
MO FARAH MANIA – O atleta britânico, de origem somali, Mohamed Farah virou sensação no Reino Unido, ao vencer a prova dos 10 mil metros e dos 5 mil metros, ganhando duas medalhas de ouro em Londres. Neste domingo, ele foi recebido pelo primeiro-ministro David Cameron, em sua residência oficial em Downing Street, e posou para fotos com o seu já famoso gesto de braços em forma da sua inicial “M”. Pelé também estava presente.
CAMERON DE FÉRIAS – Após duas semanas de Olimpíada, o primeiro-ministro David Cameron vai tirar um período de férias, já a partir desta segunda-feira. Ele estará de volta a tempo da abertura da Paralimpíada de Londres, em 29 de agosto. “Todos os seres humanos precisam de férias”, justificou, sob críticas da imprensa local.
HEATHROW – A segunda-feira pós-Olimpíada deve ser o dia mais movimentado da história do aeroporto de Heathrow. Isso porque os atletas e torcedores foram chegando aos poucos, mas tendem a concentrar a saída na data seguinte à cerimônia de encerramento.
Fonte: http://blogs.estadao.com.br/daniela-milanese/2012/08/13/londres-entrega-e-agora-cai-na-ressaca-olimpica/
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