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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A polícia cordial


Por Jonas Oliveira

Eu já morava em Londres há sete meses quando recebi a visita de meus pais. Certa noite estava com eles em um restaurante na região central de Londres, quando dois policiais armados entraram no local. Não havia nada de errado, eles queriam apenas uma porção de fish and chips. Mas a presença das armas naquele local me incomodou, porque imaginei que meus pais se sentiriam intimidados.

Para minha surpresa, eu era o único incomodado entre os três. Levei um tempo para perceber que ver policiais e seguranças armados nas ruas é parte de nossa rotina no Brasil. Em Londres, a maior parte dos policiais não carrega armas de fogo. O simples fato de haver policiais armados no aeroporto de Heathrow e em instalações olímpicas foi motivo de críticas na imprensa inglesa – que já havia criticado a presença ostensiva de militares no Parque Olímpico de Pequim 2008.

A polícia inglesa está evidentemente longe da perfeição. Basta lembrar o caso do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto em 2005 em uma operação equivocada da Scotland Yard. No ano passado, a morte de um homem pela polícia no norte de Londres foi o estopim para tumultos em toda a cidade. Mas as notícias que chegam do Brasil sobre abusos e equívocos policiais – e sobretudo os que sequer viram notícia – não nos deixam em condição muito confortável para julgar a competência dos ingleses.

O que mais me chama atenção, porém, é a maneira como a relação entre os policiais e a população se dá em um nível bem mais cordial por aqui, sem a mesma conotação autoritária. Os britânicos não temem ou evitam os policiais, sabem que podem contar com eles para pedir ajuda ou informação sem medo algum. E o mesmo vale para os turistas, que frequentemente pedem até para tirar fotos com os policiais – algumas em situações inusitadas, como a brasileira acima simulando uma prisão.

Nos Jogos do Rio 2016, os policiais terão a importante função de garantir a segurança dos Jogos. Mas é preciso ter em conta que eles também serão vistos pelo turistas como uma referência segura – e que precisam ser capacitados e treinados para isso. A ideia de uma polícia desarmada no Brasil ainda parece utópica, mas por enquanto não custa pensar em pelo menos um pouco mais de cordialidade.

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/olimpiadas/um-conto-de-duas-cidades/a-policia-cordial/

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