Trabalho do arquiteto foi preterido em 1942 e 1947; estádio teria traços revolucionários
Por Diego Salgado
Morto na última quarta-feira (5) aos 104 anos, o maior arquiteto brasileiro quase assinou o projeto do Maracanã, o mais importante estádio do país.
Oscar Niemeyer ainda dava os primeiros passos na carreira quando projetou o Estádio Municipal, que seria erguido no começo da década de 1940, no terreno do Derby Club, às margens do Rio Maracanã, na Tijuca, no Rio de Janeiro.
A relação do arquiteto com o estádio começou anos antes, apenas como coadjuvante. Niemeyer formou-se em 1934, na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, aos 27 anos. Em 1936, quando cogitou-se pela primeira vez a construção de um grande estádio na capital do país em função da possível candidatura à Copa de 1942, o arquiteto carioca colaborou com os trabalhos do francês Le Corbusier e do futuro parceiro Lúcio Costa.
O complexo esportivo seria erguido no mesmo local do atual Maracanã e faria parte do campus da Universidade do Brasil. Os dois projetos, porém, foram rejeitados pela Comissão do Plano da Universidade.
Um terceiro trabalho, de 1938, assinado pelo italiano Marcello Piacentini, não virou realidade por conta da oposição ao lugar escolhido. Além disso, o apoio brasileiro ao países aliados na Segunda Guerra inviabilizou a escolha do projeto italiano.
Em 1941, o Estado Novo criou o CND (Conselho Nacional de Desportos), subordinado ao Ministério da Educação, que lançara um concurso de projetos para o Estádio Municipal.
Niemeyer, então, assinou um projeto, com a consulta do engenheiro Emílio Baumgart. Os concorrentes eram a dupla Pedro Paulo Bernardes Bastos/Antônio Augusto Dias Carneiro e o grupo formado por Renato Mesquita dos Santos, Thomaz Estrella, Jorge Ferreira e Renato Soeiro.
O projeto de Niemeyer possuía traços revolucionários: um arco monumental seria responsável pela sustentação da marquise --a estrutura, imponente, teria 300 metros de comprimento e 100 metros de altura. Além disso, haveria arquibancadas em apenas um dos lados do campo (o outro será destinado às tribunas) e atrás dos gols. O projeto contemplava um anfiteatro em concha, com altura máxima no centro a oeste, além de três anéis e duas galerias de acesso.
Niemeyer também projetou o rebaixamento de 13 metros do solo. A ideia era reduzir o comprimento das rampas de acesso, que seria feito em uma faixa intermediária, no nível do solo.
Assim, a visibilidade melhoraria e, segundo o próprio arquiteto, o custo diminuiria, pois a estrutura do estádio seria menor. O fato, contudo, foi decisivo para a desclassificação: o terreno alagadiço e o solo argiloso do Maracanã inviabilizaram o projeto de Niemeyer.
A decisão deu-se em novembro de 1942. Os dois outros trabalhos também apresentaram objeções: um pela arquibancada com 40 metros, o outro pela baixa visibilidade. O projeto de Niemeyer recebou dois votos contra três de Bastos/Carneiro.
O resultado, no entanto, não era definitivo. Gustavo Capanema, ministro da Educação e da Saúde e responsável pelo concurso, entendia que era preciso um estudo prévio de fatores, como a condição do solo.
Em maio de 1943, o presidente Getúlio Vargas concordou com uma nova decisão. Em outubro do mesmo ano, uma nova comissão foi formada para o veredito final, mas o trabalho foi postergado, voltando à tona apenas em julho de 1946, após o término do Estado Novo e da confirmação do Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 1950.
Além dos projetos de Niemeyer e da dupla Bastos/Carneiro, Raphael Galvão e Orlando Azevedo também entraram na disputa. Niemeyer, à época, já em 1947, trabalhava em Nova York, no projeto da sede da ONU.
A comissão, que optara por um estádio fechado e em forma de falsa elipse, além de uma arquibancada em forma de parábola, decidiu por um projeto feito em equipe. O projeto definitivo foi, então, assinado por Pedro Paulo Bernardes Bastos, Antônio Augusto Dias Carneiro, Raphael Galvão e Orlando Azevedo, com a colaboração de Waldir Ramos, Miguel Feldman e Oscar Valdetaro de Torres e Melo.
Após divergência entre o prefeito Mendes de Moraes e a UDN do opositor Carlos Lacerda (que fazia lobby por um estádio em Jacarepaguá), deu-se início à obra do Maracanã. A pedra fundamental foi lançada em 20 de janeiro de 1948. A construção, por sua vez, começou em 2 de agosto do mesmo ano e durou 22 meses, até 16 de junho de 1950.
Na época, Niemeyer assinou trabalhos em São Paulo e Minas Gerais. Na capital paulista, projetou o Conjunto Ibirapuera e o Conjunto Copan.
Fonte: http://www.portal2014.org.br/noticias/11144/PROJETO+DE+NIEMEYER+CONCORREU+A+CONSTRUCAO+DO+MARACANA.html
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