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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Ameaçada pelo Maracanã, escola Friedenreich é a quarta melhor do Rio


Para associação de pais, novo espaço oferecido pelo governo não agrada

Por Pedro Carrion

O processo de privatização do Maracanã não ameaça apenas o antigo museu do Índio e o laboratório do Ministério da Agricultura. Detentora do quarto melhor ensino do município e do sétimo melhor do estado do Rio de Janeiro, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a escola municipal Friedenreich também está na mira das escavadeiras. 

Indignados com a situação, a Associação de Pais da escola luta para que o ano letivo de 2013 seja garantido no atual endereço. Como a demolição é iminente, os problemas giram em torno do novo espaço oferecido pelo poder público.

Para Áurea Xavier, membro da Comissão de Pais e Alunos da Escola Friedenreich, as opções dadas pelo governo não têm agradado. “Entramos com uma ação civil pública pela 1ª promotoria da justiça de tutela coletiva de proteção à educação da capital. Mas se realmente a demolição for inevitável, mesmo após toda nossa luta, o local escolhido tem que atender a toda a comunidade escolar e ficar próximo ao atual”, explica. 

À frente das obras do Maracanã, o governo do estado revelou, por meio de sua assessoria de imprensa, que um espaço em São Cristóvão, onde funcionava a escola de veterinária do Exército, será o novo destino da Friedenreich.

O local foi escolhido porque o prédio já estaria em condições de uso e poucas adaptações seriam necessárias. Além disso, segundo o governo, os alunos estariam muito bem acomodados, uma vez que a localização do novo espaço é melhor do que a atual.

“Ficará a cargo do concessionário que vencer a licitação fazer todas as adaptações necessárias para a futura acomodação dos estudantes no novo prédio. A transferência só ocorrerá quando o espaço estiver totalmente pronto. Portanto, os alunos podem ter total tranquilidade quanto a ter as suas aulas normalmente”, afirma a assessoria de imprensa do governo estadual.

Áurea Xavier, no entanto, acredita que as ações do poder público vêm sendo comunicadas de forma impositiva, sem qualquer diálogo nem consulta aos pais dos alunos e demais envolvidos. 

Além disso, a representante da Comissão de Pais e Alunos lembra que, embora São Cristóvão seja um bairro vizinho, o local fica do outro lado da linha do trem, além de pertencer à outra Coordenadoria Regional de Educação (CRE).

E mais: tem desvantagens em relação ao Maracanã no que diz respeito à oferta de transporte público. Essa questão, diz ela, fere o Estatuto da Criança e do Adolescente --que sustenta que a criança tem direito à escola perto de casa.

“A escola precisa preservar os seus padrões e não é em qualquer lugar que isso se fará. Não podemos aceitar a imposição de um lugar “x” ou “y”. Pois uma escola não é só sua equipe, as pessoas. Ela possuiu sua história, suas conquistas, a cultura que o ambiente do entorno lhe transmite. Além do mais, temos alunos com necessidades especiais. Isso é mais um diferencial da Friedenreich”, diz Áurea.  

De acordo com ela, a promotora responsável pelo caso, Biana Motta, promoveu uma reunião entre representantes da comunidade escolar e dos governos para tentar o diálogo. “Mas eles enviaram pessoas sem qualquer poder de negociação e percebemos que o diálogo era quase impossível. Mesmo assim vamos seguir tentando”, lamenta. 

Vitória parcial
Na noite desta terça-feira (18), a Câmara dos Vereadores do Rio aprovou, com 26 votos a favor, a primeira discussão sobre o projeto de lei para o tombamento da escola Friedenreich. 

O próximo embate será ainda hoje (19), quando a proposta será votada novamente pelos parlamentares. Confirmada mais uma aprovação por parte dos parlamentares, a definição ficará a cargo do prefeito Eduardo Paes, que poderá sancionar ou vetar o projeto.

Em seguida aconteceu a votação também pelo tombamento do antigo prédio do Museu do Índio. No entanto, não houve quórum o suficiente para aprovar o projeto, uma vez que quatro vereadores já haviam deixado a Câmara. A expectativa é que o pleito ocorra ainda esta semana.

Parque aquático e estádio de atletismo correm o mesmo risco
César Castro é atleta de saltos ornamentais e já representou o Brasil em três Olimpíadas. Hoje, ele treina no Parque Aquático Julio Delamare, no complexo do Maracanã, e milita pela sua preservação. 

Para Castro, muitos atletas que se preparam para os Jogos Olímpicos de 2016 encontrarão dificuldades para continuar treinando, já que eles terão de se deslocar para pontos mais distantes em busca de locais para treinamento.

“Não faz sentido demolir algo que está funcionando muito bem e que possui equipamentos tão modernos. Por semana, cerca de nove mil pessoas frequentam o parque aquático, que oferece escolinhas de natação, hidroginástica para a terceira idade, natação para deficientes e treinamento das seleções de saltos ornamentais e nado sincronizado”, diz.   

Treinador de atletismo e defensor do Estádio de Atletismo Célio de Barros --outro em vias de ser demolido por conta do estádio da final da Copa de 2014--, Nelson Rocha tripudia da área oferecida pelo governo, também em São Critóvão, para realocar os equipamentos esportivos.  

“Foi oferecido um espaço pertencente ao exército, onde talvez caiba metade do Célio de Barros, e onde querem também construir o Júlio Delamare. Mas as obras sequer começaram”, afirma Nelson.

Ele acredita no apoio da opinião pública para que os equipamentos esportivos não sejam destruídos. Para o treinador, a participação de artistas populares na causa também é importante, o que vem ocorrendo através de vídeos de apoio gravados e veiculados na internet.

“A situação está difícil porque o poder financeiro cala muitas vozes. Mas nossas chances aumentam na medida em que tivermos mais formadores de opinião. Pois pelo governador Sérgio Cabral, tudo já estaria no chão. Se conseguirmos reunir maior número de desportistas, políticos, sociedade civil, que em sua maioria é pouco informada, ganharíamos visibilidade e, consequentemente, força em nossa luta."

A resposta do governo do estado para a necessidade de demolição de todos estes é equipamentos é a mesma. "A demolição faz parte do projeto que visa a transformar o complexo do Maracanã em um grande centro de entretenimento e é necessária para que o futuro complexo atenda às necessidades de escoamento e circulação de público nos padrões internacionais seguidos por esse tipo de equipamento esportivo”, afirma o órgão.

A questão do escoamento, aliás, já foi desmentida pela própria Fifa em ofício enviado a Defensoria Pública da União do Rio de Janeiro (DPU). O documento informa, inclusive, que a entidade mundial não concorda com as demolições. 

Fonte: http://www.portal2014.org.br/noticias/11207/AMEACADA+PELO+MARACANA+ESCOLA+FRIEDENREICH+E+A+QUARTA+MELHOR+DO+RIO.html

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