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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O velho futebol brasileiro não está preparado para os estádios da Copa


Para jornalista, seria necessário conscientizar os torcedores para utilização das modernas arenas

por Fernando Graziani

Jogos de Copa das Confederações e de Copa do Mundo não podem ser usados como parâmetros para absolutamente nenhuma partida dos campeonatos disputados no Brasil. São competições que guardam condições especialíssimas, entre elas a presença de muitos torcedores que não estão habituados a frequentar estádios e um sistema de segurança – dentro e fora do estádio – muito mais rígido. É uma outra realidade, portanto.

Com a proximidade da entrega dos novos estádios (o lindo Castelão, esse aí da imagem que abre o post, será o primeiro, com inauguração no próximo dia 16) não consigo imaginar que o torcedor brasileiro, de uma hora para outra, se torne educado e pacífico apenas por causa dos modernos equipamentos. Não vai acontecer.

Aquele papo de que diante do novo o desejo de preservação aparece não cola de jeito nenhum. São centenas de exemplos de que tal comportamento é uma lenda. O problema é que com os estádios, a necessidade de mudança na atitude de quem vai aos jogos será urgente.

Algumas indagações. O torcedor vai ver o jogo sentado? Vai cumprir a numeração das cadeiras? Não vai mais urinar no chão ou nas pias? Não vai molhar o papel e jogar no chão e nas paredes? Não vai escrever nas portas dos banheiros? As torcidas organizadas vão ter seus locais fixos na arquibancada? Seus integrantes terão que comprar ingressos sequenciais? E como vão torcer? Pulando em cima das cadeiras?

Eu já posso imaginar a festa

Muito preocupante também é a questão da falta de alambrados em todos os estádios. Vão ficar lindos e modernos (e caríssimos), não há dúvida, mas não é difícil lembrar das dezenas de brigas que já presenciamos dentro de estádios brasileiros e, claro, das tentativas e invasões grotescas ao gramado.

Clássicos como Corinthians x São Paulo, Bahia x Vitória, Inter x Grêmio, Atlético-PR x Coritiba, Ceará x Fortaleza, Náutico x Sport, Atlético-MG x Cruzeiro e Flamengo x Fluminense, América-RN x ABC poderão tranquilamente receber multidões sem alambrado?

A partir da liberação dos estádios, qualquer torcedor estará a um passo de invadir o campo de jogo. Um passo, mais nada. E então? Estarão árbitros, jornalistas, técnicos, jogadores e quem mais estiver por ali seguros? Espetáculos de guerra já presenciados não vão mais se repetir, como que por encanto? Ou teremos centenas de policias corredores em volta do gramado, formando alambrados humanos?

Continuo imaginando a festa.

Aliás, já passou da hora dos clubes de futebol do Brasil começarem a se responsabilizar pela segurança dentro dos estádios. A omissão é absolutamente irritante e irresponsável. Por aqui ninguém ao menos discute a situação.

A Policia Militar tem obrigação de ficar na rua, cuidando da segurança pública do entorno do evento (onde certamente mortes provocadas por brigas de torcidas continuarão ocorrendo), que é também da cidade, com presença apenas diminuta e estratégica dentro das arenas. Infelizmente, por populismo também, existe uma conivência geral muito grande com o futebol, como se todo mundo que paga imposto gostasse do esporte.

Os clubes, além de cuidar da segurança interna como locatários ou donos do espaço, também devem providenciar um bom número de orientadores de público, para fazer a recepção dos torcedores, indicar os lugares, verificar o cumprimento da civilidade nas arquibancadas, lanchonetes, banheiros e quaisquer outros lugares, tornando o estádio um lugar agradável. Deveriam ser obrigados a isso. Estamos falando de um evento particular e lucrativo.

Interessa, portanto, aos próprios dirigentes que o torcedor tenha bom comportamento. Além de evitar punições de perda de mando, a preservação do patrimônio será cobrada com muito mais responsabilidade, até porque muitas das novas arenas terão administração privada, como o caso do Castelão.

E aí eu pergunto: alguém por aí tem visto campanhas ou tentativas de conscientização de torcedores? Alguém está preocupado em como o velho futebol brasileiro não tem competência para usar os novos estádios? Há a noção real de que falta educação? Há a noção de que falta punição? E as formas efetivas de combate ao marginais e depredadores nos estádios? A CBF parece interessada? As Federações? Os clubes? O poder público?

Gostaria muito de estar exagerando nas preocupações, mas entre o pessimismo e o otimismo, sempre prefiro optar pelo realismo. E a realidade nos estádios brasileiros é das piores e nada indica melhora, ainda que eu siga imaginando a festa.

*Fernando Graziani é jornalista e coordenador de esporte do Sistema Jangadeiro de Comunicação, um dos mais importantes conglomerados de mídia do Nordeste do país, com sede em Fortaleza. O texto acima foi publicado originalmente no blog Esporte Fino.

Fonte: http://www.portal2014.org.br/noticias/11143/O+VELHO+FUTEBOL+BRASILEIRO+NAO+ESTA+PREPARADO+PARA+OS+ESTADIOS+DA+COPA.html

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