Por Erich Beting
Roger Federer e Thomaz Bellucci fizeram na noite de quinta-feira a “grande abertura” dos quatro dias de evento em São Paulo para celebrar a estreia do tenista suíço, um dos melhores da história, em solo brasileiro. Na arquibancada do ginásio do Ibirapuera, a televisão mostrava alguns espaços vazios.
Claramente os assentos livres não eram pela falta de atratividade do evento, muito menos pelo horário de início do jogo (por volta das 21h locais). Ao preço de R$ 990 o anel inferior e R$ 500 o superior, a surpresa foi o Ibirapuera encher. Afinal, é mais barato assistir a diversos jogos de um ATP 1000 de Miami, por exemplo, do que pagar por um ingresso de um jogo de exibição no Brasil!
Mais uma vez o tênis peca pela fama “elitista” que construiu ao longo dos anos e que, desde as raquetadas certeiras de Guga, deixa de ser tão verdade assim. A cobertura mais ampla da mídia e o trabalho feito pela ATP nos últimos anos contribuiu para que o tênis deixasse de ser algo totalmente distante da realidade brasileira. Algumas quadras públicas acessíveis, o fenômeno de Guga no início do século e pronto, nós não temos apenas endinheirados milionários interessados em assistir ao esporte.
Quando conseguimos a proeza de reunir alguns dos melhores atletas da atualidade na cidade mais populosa do país, a lógica faria com que tivéssemos filas para conseguir ingresso, casa lotada e um sucesso de público. O absurdo, porém, é cobrar R$ 500 como preço mínimo para um jogo desses.
Sim, é verdade que a farra da meia-entrada interfere, e muito, nessa precificação de um evento. Como já falei disso no blog há algum tempo, vale lembrar. Para o organizador, não ter a certeza de quantas meia-entradas serão vendidas faz com que ele opte pelo mais simples: dobrar o preço do ingresso para faturar o dobro do previsto. Os organizadores também hão de lembrar que o valor de R$ 500 dá direito a assistir a duas partidas. E, também, vão justificar que nunca tivemos o Federer e os irmãos Bryan aqui, da mesma forma que a Sharapova e a Serena Williams são igualmente ícones mundias do tênis e estão esta semana por aqui.
Só que ao jogar o preço lá no alto a própria organizadora do Gillette Federer Tour joga contra o seu patrimônio. O valor mínimo de R$ 500 faz com que, facilmente, o público presente ao ginásio seja aquele que está acostumado a ver tênis. Sendo assim, não se renova o público e não se consegue fazer com que novas pessoas tenham acesso ao esporte. Se o preço da entrada fosse o único meio de se remunerar os atletas, ainda vá lá, mas a Gillette banca absolutamente toda a parte cara da conta.
No Brasil, a lógica dos organizadores de evento é tentar faturar ao máximo sem pensar na continuidade do produto. Pior ainda, sendo a Koch Tavares a organizadora do tour de Federer, do ATP 250 e do Challenger Finals, a própria empresa não trabalha para a criação de uma cultura no público brasileiro para acompanhar o esporte. Se os jogos com o suíço servissem de estímulo para novas pessoas irem ao tênis, seria muito mais fácil lotar os ginásios nos dois outros eventos da modalidade organizados pela empresa.
Mas a indústria no Brasil, como um todo, teima em seguir uma lógica reversa de que o luxo é o que dá retorno, e não a popularização de um produto para ganhar no atacado. É isso que move o segredo da Apple e, atualmente, o crescimento chinês pelo mundo todo. O produto de nicho é muito mais difícil de ser vendido.
Talvez essa seja a teima de um país deitado em berço esplêndido…
Fonte: http://negociosdoesporte.blogosfera.uol.com.br/2012/12/07/o-tour-de-federer-e-a-logica-reversa-do-esporte-no-brasil/
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