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domingo, 9 de dezembro de 2012

Maracanã para a elite


Faz sentido privatizar o Complexo do Maracanã para torná-lo um espaço de shows caros e inacessíveis ao povo?

Por Marcelo Freixo - Opinião

Em 1999, o poder público gastou R$ 106 milhões reformando o estádio do Maracanã para o Mundial Interclubes da Fifa. De 2003 a 2007, foram gastos mais R$ 97 milhões em reformas no Maracanãzinho. Já em 2006, o Parque Aquático Júlio Delamare foi reformado a custo de R$ 10 milhões. Na ocasião, o Maracanã foi novamente reformado para os Jogos Pan-Americanos de 2007. A previsão inicial era de R$ 67 milhões. Ao final, a obra custou R$ 304 milhões.
Em 2010, o Maracanã foi colocado abaixo para a Copa. A previsão era de R$ 705 milhões para destruir o que já havia sido feito com R$ 304 milhões. Hoje o custo está previsto em R$ 888,3 milhões. Mas estimativas apontam que o valor irá ultrapassar a marca de R$ 1 bilhão. E a maior parte deste valor é proveniente de verbas federais, através do BNDES e da Caixa Econômica Federal.
Vale lembrar que antes da primeira reforma o Maracanã já era tombado como patrimônio cultural do Rio. Um lugar onde pessoas de todas as classes se reuniam. Mas, o caráter popular do seu Complexo está em risco. Não por acaso, quando os governantes criaram os camarotes, acabaram com a geral. E assim, o povo é empurrado para o espetáculo pay-per-view de botequim. A elitização do Maracanã caminha junto com a elitização da cidade.
O fim do Parque Aquático Júlio Delamare, do Estádio de Atletismo Célio de Barros, do Museu do Índio e da Escola Friedenreich deixará órfãos desportistas, índios e comunidade escolar. Tudo em meio a um processo de privatização contaminado de suspeitas. Sequer se iniciou a licitação e já se comenta até sobre quem seria o futuro dono do Maracanã. Eis o X da questão.
Mais de 500 pessoas protestaram contra a privatização do estádio em audiência pública realizada pelo governo estadual como etapa obrigatória da licitação. Mas ninguém foi ouvido. Uma audiência pró-forma. Fala mais alto, afinal, o interesse no lucro previsto no negócio. Em respeito à população inconformada com o autoritarismo oficial, corre ação popular para tentar suspender o processo licitatório.
Faz sentido privatizar o Complexo do Maracanã para torná-lo um espaço de shows caros e inacessíveis ao povo? Existe lógica em demolir uma das melhores escolas do país e um museu para instalar um estacionamento e uma área de aquecimento para atletas? Quem defenderia isso? Que se organize um plebiscito para ouvir a população.
A cidade precisa ganhar com a Copa e as Olimpíadas: saúde, educação, cultura, saneamento básico e mobilidade urbana. É a vida dos moradores do Rio que precisa melhorar. E a primeira medalha a ser conquistada deve ser a da transparência, não a da corrida ao dinheiro público sem barreiras.

Marcelo Freixo é deputado estadual (PSol) e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/maracana-para-elite-6972955#ixzz2EYxa38lx 

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