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terça-feira, 17 de julho de 2012

Arábia Saudita: Marca inédita do movimento olímpico


Em Londres, todas as delegações terão ao menos uma mulher competindo

LONDRES - Londres já seria um capítulo à parte do Movimento Olímpico por estar recebendo pela terceira vez uma edição dos Jogos na Era Moderna, marca de menor relevância diante de um fato novo, que confere caráter histórico ao evento que se inicia oficialmente no próximo dia 27. Com a confirmação, pelo Comitê Olímpico da Arábia Saudita, das inscrições de uma judoca e de uma corredora dos 800m, pela primeira vez nas Olimpíadas todas as delegações terão, pelo menos, uma mulher como competidora.
Além da Arábia Saudita, Brunei e Qatar contarão com participações inéditas de mulheres em suas equipes olímpicas. A decisão do reino ultraconservador islâmico de permitir a presença feminina entre seus atletas, no entanto, é resultado direto das pressões de grupos de direitos humanos e de meses de negociação com o Comitê Olímpico Internacional (COI), que, assim, se aproxima de um dos objetivos consagrados em seu estatuto, a igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Nos Jogos de Atlanta, em 1996, 26 países não tinham mulheres em seus quadros. Há quatro anos, o número caiu para três em Pequim, onde 42% dos participantes eram do sexo feminino. A expectativa é por um aumento deste percentual em Londres, onde são aguardadas mais de 200 delegações, com aproximadamente 10,5 mil atletas. Pela primeira vez o boxe feminino fará parte do programa.
— Estar entre as primeiras mulheres sauditas a participar das Olimpíadas é uma grande inspiração — disse a jovem corredora Sarah Attar, de apenas 17 anos, num vídeo do COI gravado em sua base de treinos, em San Diego, na Califórnia, em que corre de calça comprida e véu islâmico. — É realmente uma honra enorme. Espero que isso represente um avanço para que as mulheres do meu país se envolvam mais com o esporte.
As mulheres na Arábia Saudita normalmente são alvo preferencial da polícia religiosa, que costuma interpretar com rigidez a lei islâmica, impedindo-as, por exemplo, de se misturem aos homens em público. Também são impedidas de trabalhar ou mesmo dar entrada em hospitais sem a permissão de uma guardião da família. Embora não exista uma lei que as proíba de praticar esporte, elas não podem frequentar estádios, piscinas ou alugar espaços para se exercitar. Também não são aceitas em clubes ou ligas. Nas escolas públicas, as aulas de educação física são exclusividade dos homens, a quem é destinada toda e qualquer tipo de competição, o que significa que as mulheres sauditas não podem sequer sonhar em participar de um torneio internacional. Ou melhor, não podiam.
— O que digo para qualquer mulher que queira praticar esporte é que vá em frente, e não deixe ninguém impedi-las — afirmou Sarah, que em Londres terá a companhia da judoca Wodjan Ali Seraj Abdulrahim Shahrkhani, da da categoria acima de78kg. — Todas nós temos potencial para sair de lá e ir em frente.
O presidente do COI, Jacques Rogge, informou que nem a corredora nem a judoca obtiveram índices para competir em Londres, mas receberam convites especiais “baseados na qualidade das atletas”.
— Acompanhamos aquelas que possuíam marcas mais próximas dos índices de classificação, e as escolhemos. Esse é sempre o ponto de partida para esses convites — explicou o dirigente, sem esconder a satisfação pelo que considera uma vitória do olimpismo:
— Trabalhamos muito próximos do Comitê Olímpico da Arábia Saudita e estou contente ao ver que nossos contínuos diálogos renderam bons frutos.
Inicialmente, a amazona Dalma Rushdi Malhas, que treina na França, seria a primeira representante saudita nos Jogos. Em 2010, ela conquistou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Cingapura. No fim de junho, porém, a Federação Internacional de Hipismo (FEI) anunciou que Dalma não poderia disputar os Jogos de Londres devido a uma lesão de seu cavalo Caramell KS.
Porta-bandeira feminina
Grupos de direitos humanos comemoraram a decisão, considerada um passo à frente na luta contra a discriminação das mulheres no país, mas lembraram que o problema continua extremamente grave.
— A participação de duas atletas sauditas em Londres é um avanço considerável, mas não esconde o fato de milhões de mulheres sauditas serem banidas da prática esportiva em escolas — afirmou Minky Worden, da Human Rights Watch. — Esse é o momento propício para o COI usar seu poder de influência, derrubar barreiras para estimular o esporte feminino no reino.
Maziah Mahusin será a primeira mulher a representar Brunei numa Olimpíada. Assim como suas companheiras sauditas, ela não tinha índice para correr, no caso, os 400m rasos em Londres, mas, após uma espera agonizante, também ganhou um convite. Pelo Qatar, irão aos Jogos a nadadora Nada Arkaji, a velocista (100m rasos) Noor al-Malki, a mesatenista Aya Magdy e a atiradora Bahiya al-Hamad, que será a porta-bandeira do país na cerimônia de abertura:
— Ainda estou um pouco assustada com o convite — revelou Al-Hamad. — Será um momento histórico para atletas de todos os países.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/olimpiadas2012/arabia-saudita-marca-inedita-do-movimento-olimpico-5493519#ixzz20sh06fPn 

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