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sexta-feira, 27 de julho de 2012

O que a TV nos ensina sobre a cultura esportiva no Brasil


Por Erich Beting

No primeiro dia de transmissão olímpica, a Record ficou atrás da Globo na audiência do Ibope. O resultado não chega a impressionar. Afinal, pelos próximos dias os índices da TV nas Olimpíadas vão nos mostrar, muito, da cultura esportiva no Brasil. Ou melhor, da monocultura esportiva. O futebol continua a ser o esporte número 1 e provará isso de forma clara. Por mais interessante que seja a transmissão de uma edição de Jogos Olímpicos, ela não é tão popular quanto à de uma Copa do Mundo.

Para piorar, vamos acompanhar o evento em TV aberta sem o padrão que foi criado nas últimas décadas. Sim, pode falar o que quiser, mas não há empresa de mídia hoje no país que saiba planejar tão bem uma grande cobertura quanto a Globo. Muito daquilo que o consumidor reclama por ser “privilégio” da Globo faz parte de um planejamento de longo prazo dos grandes eventos. E isso passa por, durante a competição, a emissora falar ao máximo sobre ela mesma.

Essa, aliás, é uma cultura na grade de programação da Globo, com o “Vídeo Show” sendo talvez a melhor prova disso. Tudo o que é feito é “transmitido” ao telespectador. O jornal da manhã faz referência à programação, assim como a novela, a transmissão esportiva, o programa de entrevistas, etc. Toda hora a Globo lembra a pessoa de manter-se ligada a ela.

E talvez esse seja, agora, o maior problema que a Record terá para exibir os Jogos. Só para termos uma ideia, na quarta-feira, o “Record Notícias”, programa anterior a Brasil x Camarões, ficou passando uma reportagem sobre a vida de John Travolta dez minutos antes de a transmissão ser iniciada. O noticiário esportivo, que dominou o programa inteiro, foi completamente ignorado na hora de “entregar” para o evento.

Outro ponto básico que deve dificultar a ida do torcedor para a Record é o próprio entrave que a emissora coloca para os profissionais de outros veículos de TV cobrirem o evento e da própria mídia em geral divulgar a competição. Para as rádios, está vetado o uso das expressões Olimpíadas, Jogos Olímpicos e similares, além de os anúncios de resultados durante a programação terem de respeitar um determinado tempo para serem feitos.

O público das outras mídias só ajuda a levar o torcedor para a mídia principal que transmite o evento. Isso é uma regra básica e que, quem tem experiência em transmissão esportiva sabe bem, tanto que a Globo não anuncia a programação do dia nas Olimpíadas, apenas esperando para relatar o que aconteceu.

Pelos próximos 15 dias a TV vai nos ensinar, e muito, sobre a cultura esportiva no Brasil. Mas é óbvio, também, que apenas um evento “perdido” no meio de uma programação que não tem a cultura do esporte, como é o caso da Record, é muito pouco para determinar o fracasso ou o sucesso de um produto esportivo para uma emissora de TV.

Alternativa para a Globo pode até existir, mas será que há experiência, competência e continuidade de projeto para se fazer algo melhor do que a emissora do Plim-Plim nos oferece? Posso, e espero, queimar a língua. Até o momento, a Record mostrou que está longe de conseguir isso. Pelo menos na TV aberta brasileira o que a Globo faz é melhor do que as outras. E por isso mesmo só vamos reforçar a monocultura do futebol pelos próximos 15 dias e nos dois anos seguintes.

Que cheguemos rapidamente em 2015.

Fonte: http://negociosdoesporte.blogosfera.uol.com.br/2012/07/26/o-que-a-tv-nos-ensina-sobre-a-cultura-esportiva-no-brasil/

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