Por Maurício Noriega
Em tempos de mundo conectado, o bate-boca virtual entre a judoca Rafaela Silva e alguns anônimos no Twitter provoca algumas reflexões.
A primeira que me vem à mente é a baixa qualidade do que se escreve e, consequentemente, se debate nas redes sociais. A maior parte do que se publica nesses novos meios de comunicação é um caldo de bobagens, provocações baratas, piadas de péssimo gosto e palavras de baixo calão escritas em português tosco, povoado de erros.
Infelizmente, o debate saudável, a troca de ideias e a polêmica saudável estão resumidas, ainda, a uma pequena parcela de frequentadores das redes sociais.
Rafaela Silva é uma atleta de nível internacional e uma jovem que gosta do que qualquer outro jovem também gosta. Seria impensável que ela não estivesse presente nas redes sociais. Até para interagir com amigos e fãs verdadeiros.
Não sou juiz da vida e do comportamento alheio. Até porque tenho perfis nas redes sociais e já bati boca com alguns encrenqueiros virtuais mais de uma vez. Ninguém tem sangue de barata, e alguns desocupados gastam seu tempo livre perturbando e provocando.
A maioria do povo brasileiro não conhece esportes, não entende de esportes, apenas torce nas Olimpíadas e, principalmente na Copa do Mundo. Esse caldo de opiniões apaixonadas e desequilibradas também conhece muito pouco do esporte mais popular do País, o futebol. Não gosta do esporte, apenas quer que seu time vença a qualquer custo. Infelizmente, a maioria pensa assim.
No caso de Rafaela Silva, talvez tenha faltado alguma orientação para que, após uma eliminação dolorosa, ela não fosse exposta aos embusteiros desocupados que a atacaram covardemente. De cabeça quente, ela respondeu descendo ao nível daqueles ataques e fazendo o que eles realmente queriam, que ela reagisse.
Aconteceu com jogadores de futebol e atletas de outras modalidades. Acontece com celebridades e com pessoas que trabalham com opinião. O anonimato, completo ou relativo, é uma arma covarde contra quem aceita se colocar honestamente nessas redes sociais.
Rafaela Silva errou, admitiu, foi punida dentro de uma regra vigente em seu esporte, e não foi a única a ser eliminada no torneio olímpico de judô dessa maneira. A Olimpíada é território frequentado pelos melhores entre os melhores, e um segundo costuma ser fatal em qualquer modalidade. Chegar aos Jogos Olímpicos é para pouquíssimos. Conquistar medalhas, para um número ainda menor de atletas altamente capacitados, talentosos e bem treinados.
Muitas vezes, a mídia, da qual faço parte, termina por contribuir para que certo tipo de comportamento aflore. Termos colocados fora de ordem ou de maneira exagerada, como herói, esperança do Brasil, honra, vergonha e vexame, criam um ambiente desfavorável para quem se expõe, e extremamente fértil para quem não tem educação, princípio e conhecimento.
Cabe refletir. Atletas não são heróis de ninguém, não vão para a guerra defender pátria alguma. São pessoas que escolheram levar suas vidas num ambiente comperitivo, de alto rendimento, enfrentando outras pessoas que muitas vezes têm mais talento, capacidade e treinamento.
Redes sociais são um fenômeno ainda fora de controle, cujo real propósito ainda não está muito claro. Assim como proporcionam diversão, trabalho e fonte de renda para alguns, também apresentam a oportunidade para que gente sem coisa melhor para fazer jogue fora seu tempo irritando os outros.
Fonte: http://blogdonori.blogspot.com.br/2012/07/atletas-e-redes-sociais-em-tempos-de.html
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