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terça-feira, 24 de julho de 2012

A NFL poderia ser exemplo para o Brasileirão ‘Desvalorizadão’


Por Thiago Perdigão

Esta coluna abaixo foi publicada no Diário LANCE! na última quinta-feira, dia 19 de julho. Não é exatamente sobre NFL, mas passo por esse assunto. Acho que este espaço poderia levar a um debate interessante sobre o assunto.

O Brasileirão deveria ser o ‘Desvalorizadão’

Vira e mexe a discussão sobre o calendário brasileiro volta à tona. Para ser sincero, não sei se o melhor seria adequar ao europeu. Em princípio, parece ser o certo, mas ainda é preciso discutir e cortar “gorduras” como 23 datas (dadas por politicagem) para a disputa dos ultrapassados Campeonatos Estaduais.

Não dá para aceitar, por exemplo, ver a CBF “boicotar” o seu principal campeonato. Como? Convocando Neymar, sua principal estrela, para a Seleção olímpica e desfalcando o Santos por até oito rodadas. O motivo é nobre, é verdade, mas desvaloriza um produto já desvalorizado.

Afinal, a despeito das estrelas internacionais como Seedorf e Forlán estarem perto de estrearem nos gramado por aqui, o Brasileirão ainda é pouco conhecido fora do Brasil. Na chegada da Seleção em Londres ficou claro o espanto do policial no aeroporto da capital do Jogos perguntando “quem era Neymar” após ver o assédio sobre o atacante santista.

E Oscar? Talvez a grande revelação dos últimos anos, deve ficar por Londres depois da Olimpíada, no meio do Brasileirão, e sem se despedir do torcedor do Internacional.

Há dinheiro para investir. Mas haveria mais se as marcas brasileiras se divulgassem mais pelo exterior.

Olhe para a Europa: os principais times fazem cada vez mais excursões para os EUA ou Ásia, certos de que lá estão os “novos mercados”. Os brasileiros não conseguiram se firmar nem na Europa, que em crise, ainda consome futebol.

E bons exemplos existem em vários lugares. Veja a lista da revista “Forbes” dos 50 clubes mais valiosos do mundo (aqui a notícia completa e meus comentários): todas as 32 franquias da NFL estão na lista. Isso em um esporte disputado profissionalmente apenas em um país. Por que não copiar algumas estratégias?

No futebol, Londres, por exemplo, é uma das “capitais” do futebol, com muitos times, inclusive o Chelsea, o campeão europeu e possível adversário do Corinthians no Mundial de Clubes.

Mas, o policial londrino nunca tinha ouvido falar em Neymar…

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Agora meus comentários: a NFL, é claro, não é uma liga perfeita. Tem vários problemas e eu voltarei a este assunto mais tarde, ainda nesta semana. Um deles, é a quantidade de jogadores presos durante o período sem jogos, por exemplo.

Mas em relação a faturamento, não há o que criticar. São milhões e milhões de dólares de lucro para todas as franquias e outros bilhões para a Liga. Somas impensadas de dinheiro que o brasileiro parece “não querer”.

Boa parte do lucro vem dos contratos de televisão. Por aqui, os valores estão altos, mas parecem abaixo do que poderiam ser. O monopólio faz bem para a dona dos direitos, mas faz mal para os clubes. A NFL, por exemplo, é transmitida por qutro emissoras diferentes nos EUA e por valores muito altos.

A própria Liga tem os direitos internacionais e os vende por outra concorrência. E ainda disponibiliza assinatura para os não moradores dos EUA. Você, no Brasil, pode assinar a NFL Network e o Game Pass e terá o direito de assistir a todos os jogos via internet.

Isso cria divulgação, cria fidelidade a marca. E isso é mais importante do que qualquer montante de dinheiro paga em um primeiro momento.

Outra vantagem tem a ver com o calendário. É claro que não dá para pensar uma temporada de futebol com 16 jogos, como é na NFL. Mas é preciso valorizar os jogos. No Campeonato Paulista são 19 intermináveis jogos na fase de classificação. Contra times fracos, várias vezes, e com pouco apelo decisivo.

Fora as mudanças. Por aqui, as televisões mudam os horários dos jogos por conta da audiência. Sem qualquer critério técnico. No próximo domingo, por exemplo, o jogo do Palmeiras (contra o Cruzeiro, em Minas) foi trocado pelo do Corinthians (Bahia, fora), apenas porque a Globo quer competir contra as transmissões da Olimpíada de Londres, que serão exclusivas da Record. Na final da Copa do Brasil, aconteceu algo semelhante.

E o torcedor que já tinha se programado para assistir a algum desses jogos?

Alguns irão gritar “a NFL também muda seus horários”. É verdade. Mas é algo esperado e que acontece para por um jogo decisivo no horário nobre. Um jogo decisivo, depois da décima rodada do campeonato. Enfim, algo a se pensar…

Até a Liga de futebol americano sabe que precisa divulgar sua marca fora. Já tentou criar um campeonato na Europa, que naufragou depois de um tempo. Mas faz um jogo todo ano em Londres e já programa mais jogos fora dos EUA. Na Alemanha, por exemplo, o futebol americano é muito forte.

Há ainda uma “semana latina”, de olho nos fãs latinos que moram no país, que são milhões, além das transmissões nos países da América. Tem também os jogos no Canadá e assim vai…

Outra coisa que valoriza uma marca: seus produtos. Daqui do Brasil, apesar dos altos impostos, você consegue comprar uma camisa da NFL. Como consegue achar em qualquer shopping várias camisas de futebol de clubes europeus. Os times brasileiros conseguem fazer o mesmo? Claro que não… Mesmo porque quase nunca aparecem por lá.

Pouco muito pouco.

Twitter: @thiago_perdigao

Fonte: http://blogs.lancenet.com.br/madeinusa/2012/07/23/a-nfl-poderia-ser-exemplo-para-o-brasileirao-desvalorizadao/

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