Com gastos três vezes mais altos do que o estimado, Londres entra na lista das cidades-sede que ultrapassaram o orçamento da Olimpíada.
Por Márcio Orsolini
É uma tradição que quase sempre se renova, desde a primeira Olimpíada da era moderna, em 1896, em Atenas. Naquela ocasião, os jogos estavam prestes a ser cancelados por falta de recursos. Um empresário grego salvou a competição financiando a restauração do Estádio Panathenian. As autoridades esperavam recuperar o investimento com a venda de ingressos, o que não aconteceu. Desde então, a história se repete em menor ou maior grau (com frequência, em maior), especialmente a partir do século 21. Os Jogos Olímpicos se transformaram num dos maiores eventos midiáticos de nossos tempos, ao lado da Copa do Mundo de Futebol. Mas a honra de organizá-lo custa muito, muito dinheiro.
Tome-se como exemplo os Jogos de Londres, que receberão mais de 200 países a partir de 27 de julho. Oficialmente, a autoridade inglesa responsável pela Olimpíada, a ODA, calcula um investimento total de £ 9 bilhões (cerca de US$ 13 bilhões) em infraestrutura, segurança e montagem das arenas, numa economia de £ 476 milhões sobre o orçamento inicial. Mas estimativas mais recentes apontam gastos até três vezes maiores, chegando a £ 24 bilhões, o equivalente a quase US$ 40 bilhões, segundo o National Audit Office, órgão governamental que monitora os investimentos públicos. A iniciativa privada vai contribuir com apenas 2% desse valor. O motivo? A crise de 2008 fez muitos investidores privados deixarem o projeto olímpico londrino.
Atualmente, 28 empresas estão apoiando a Olimpíada, como o laboratório GlaxoSmithKline, a mineradora Rio Tinto e a rede de hotéis Holiday Inn. Caso as contas realmente estourem, Londres entra para uma lista composta por Pequim, que sediou os Jogos Olímpicos em 2008, e Atenas, em 2004. Na época, o governo grego anunciou custo final de US$ 12 bilhões – o dobro do inicialmente previsto. Pequim, palco da mais cara Olimpíada da era moderna, gastou US$ 43 bilhões. O investimento foi todo bancado pelo governo chinês. “A esfera pública deve ficar apenas com projetos de infraestrutura que melhorarão a cidade”, diz Amir Somoggi, diretor da área esportiva da consultoria BDO RCS.
É essa receita que está tentando seguir o Brasil com a organização da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. A organização é dividida em dois órgãos: o Comitê Organizador, que fica responsável por toda a estrutura referente às competições, e a Autoridade Pública Olímpica (APO), que gerencia o orçamento para a infraestrutura na capital carioca. O total está estimado em US$ 14,8 bilhões. O Comitê Organizador pretende atingir a meta orçamentária com a venda de cotas de patrocínio para 15 empresas, como o banco Bradesco, a montadora japonesa Nissan e a americana General Electric, além de produtos licenciados e venda de ingressos. O ex-ministro das Cidades, Márcio Fortes, presidente da APO, afirma que ainda não é possível saber se o valor estimado não será ultrapassado.
“Ainda há obras que estão na fase de projetos”, diz Fortes. Elas foram separadas em dois grupos: as essenciais para a realização dos jogos e as secundárias. Entre as essenciais está o Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, que abrigará o Centro de Imprensa e as disputas de diversas modalidades esportivas. Já a construção da linha 4 do Metrô, que ligará a zona sul à Barra da Tijuca, por exemplo, foi classificada como não essencial. “É preciso levar em consideração que muitas obras de infraestrutura já estão nas contas do Programa de Aceleração do Crescimento e também no orçamento da Copa de 2014”, afirma Fortes. “Isso tudo beneficiará a Olimpíada.”
Fonte: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/88591_ESTOURO%20OLIMPICO
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