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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Negócios da China


Após o caso envolvendo Ronaldinho, Flamengo e Traffic, será mesmo que as parcerias clube-investidor valem a pena?

Por Matheus Harb

Já faz algum tempo que as parcerias tomaram conta do futebol brasileiro. Com investimentos, ajudaram a construir boas ou grandes equipes, desempenhando um papel central no novo cenário do esporte no país. No entanto, a boa intenção da ideia é, por vezes, um tiro que sai pela culatra, como visto no caso Ronaldinho e Flamengo. A chance de acontecer um desfecho negativo, como esse, compensa a aposta no casamento?
Boa parte dos casos de parcerias investidor-clube, no Brasil, começaram com ótimas perspectivas. ISL e MSI montaram supertimes que prometiam conquistar o mundo ou, ao menos, é a impressão que se tinha no início. Aos poucos, o 'amor' acabou, o dinheiro saiu, ficaram as dívidas. Grêmio e Corinthians se envolveram com gente que, para se ter uma ideia, são alvos até hoje de investigações em nível federal. Isso pra não falar nos rebaixamentos que vieram dessas uniões mal geridas.
O quadro evoluiu, e novos atores entraram em cena. Empresas de marketing esportivo possuem um grande número de atletas em todas as divisões do país, um modelo de negócio mais 'diplomático' que o anterior. E, mesmo assim, os desentendimentos continuam. Responsável pela contratação, e pelo pagamento de R10, a Traffic é também uma das motivadoras da crise que reina no Flamengo, ao descumprir um acordo que, em janeiro do ano passado, parecia à prova de falhas. O Grupo Sonda entrou em rota de colisão com o Santos, desde o episódio da venda de parte dos direitos de Ganso.
É claro, também existem exemplos positivos na história. A mesma DIS ajudou a montar a base do Inter campeão da Libertadores de 2010, e sua contribuição ainda se faz presente. O Flu, com o apoio da Unimed, inicia a nova temporada com um dos elencos mais fortes dos últimos anos, e larga como favorito nas competições que disputa. Mas vamos com calma. Se, por acaso, esses dois 'mecenas' saíssem repentinamente de jogo, os dois clubes estariam em apuros.
Pensar a questão sob uma perspectiva anti-investidores, porém, não ajuda a discutí-la. As parcerias estão fortalecendo o futebol que é praticado no país, tanto nos reforços quanto na manutenção de jovens valores vão surgindo. A questão, parece, é como manter o casamento com esses investidores. Na ambição de vencer, os clubes se esquecem de avaliar os riscos de cada união que fazem, e a pesada conta só chega depois. Por aí, quem sabe, a relação começa a ficar mais sadia.
De qualquer forma, é preciso imaginar alternativas para o modelo vigente. Mais cedo ou mais tarde, os clubes vão querer de volta sua autonomia, e isso depende de seu poderio financeiro. Até lá, vai ser difícil, mas necessário, resistir às tentações dos investimentos milagrosos. No final das contas, nem todo negócio é da China.

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