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quinta-feira, 21 de março de 2013

Empreiteira silencia e ameaça parar obra no Itaquerão


Dirigente do Corinthians diz já ter informado a Fifa sobre riscos de o estádio não ficar pronto para a abertura da Copa
'Não é uma situação fácil, mas terá que ser resolvida ainda este mês', diz Aldo
Indefinição fez Fifa adiar anúncio de valores de ingressos do Mundial

Por Jorge Luiz Rodrigues e Carol Knoploch

ZURIQUE E SÃO PAULO - O governo federal, o Comitê Organizador Local (COL-2014) e a Fifa já foram avisados pelo Corinthians que a Odebrecht ameaça paralisar as obras do Itaquerão a partir de 1º de abril se até lá o financiamento de R$ 400 milhões do BNDES, via Banco do Brasil, não for liberado para prosseguir com a construção. Políticos e dirigentes se movimentam nervosamente em Zurique e no Brasil. Tentam, inclusive, a possibilidade de a Caixa Econômica Federal - patrocinadora do Corinthians - substituir o Banco do Brasil como agente financiador. Todos correm contra o tempo para evitar que uma verdade desastrosa para a Copa do Mundo-2014 se confirme naquele que é conhecido como o Dia da Mentira.
- Não é uma situação fácil, mas terá que ser resolvida ainda este mês. O estádio tem que estar pronto até 31 de dezembro. Não pode haver atrasos - disse na quarta-feira o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que deixa Zurique na manhã desta quinta, após mais reuniões com a Fifa.
Escalado como palco do jogo de abertura do Mundial, em 12 de junho de 2014, o Itaquerão vive um impasse que aumentou nos últimos meses por conta do entrave no financiamento. O Banco do Brasil não aceitou o estádio como garantia de pagamento do empréstimo oferecida pelo Consórcio Corinthians-Odebrecht, porque o terreno onde será construída a arena foi cedido em regime de comodato pelo governo militar, na década de 70 e não serve como garantia, conforme revelou O GLOBO ontem. O consórcio ofereceu ainda o Parque São Jorge, recusado por questões de penhoras judiciais, e também a arrecadação de parte de receitas futuras do Itaquerão, oferta que também esbarra na questão do comodato.
A Odebrecht não se pronuncia oficialmente sobre o imbróglio, limitando-se a informar, por sua assessoria, que “a obra é do Corinthians, são eles que têm de falar”.
CIDs devem ser liberados
O Itaquerão será financiamento pelo BNDES (R$ 400 milhões), via Banco do Brasil, e pelos Certificados de Incentivo de Desenvolvimento (CIDs), no valor de R$ 820 milhões. Ontem, a prefeitura de São Paulo prometeu a liberar recursos de incentivo fiscal ainda em março ou início de abril para o Itaquerão. A administração municipal explicou que emitirá lotes de títulos em favor do empreendimento e que não será apenas um lote no valor total de R$ 420 milhões. A obra chegou a 67% do total e pode ser paralisada, segundo o Corinthians, caso os recursos federais previstos não sejam repassados ao consórcio (clube e a empreiteira Odebrecht).
- Paramos mesmo, fazer o quê? - afirmou Andrés Sanchez, responsável no clube pela obra, para quem a liberação dos CIDs não resolvem o problema.
Sanchez disse que há tempos informou ao COL e à Fifa que as “garantias financeiras foram oferecidas” e que estão “travando o negócio”.
Quando receber os CIDs, a Odebrecht terá de negociá-los, com desconto, no mercado. Até agora, a obra tem sido paga com empréstimos de bancos e com recursos da construtora, no total de cerca de R$ 500 milhões. A primeira liberação do CID pode sofrer redução em relação ao valor que o Corinthians e a empreiteira esperavam. O valor é estipulado de acordo com o andamento da obra. Em julho de 2012, quando a Odebrecht e o Corinthians entraram com o pedido da emissão dos títulos, queriam R$ 220 milhões do total de R$ 420 milhões. Pela medição da prefeitura, no ano passado, só foram autorizados R$ 156 milhões.
O problema maior, no entanto, é o financiamento do BNDES, já liberado desde 11 de julho de 2012. Como o banco é proibido de emprestar a clubes de futebol, o Banco do Brasil será o repassador, mas exige que a empreiteira dê garantias, como bens físicos ou cartas bancárias, mas ela se recusou a dar.
O Banco do Brasil alega que essas são as regras bancárias e informa que as garantias têm que ter o modelo tradicional, que dê segurança ao banco. Exige que sejam dadas pela empreiteira, diante dos outros impedimentos. Nenhum dos dois lados cedeu até o momento.
Diante dessa incerteza, a Fifa, que prometera em 2012, anunciar, em março, os preços dos ingressos do Mundial, protelou a divulgação para 1º de julho, sem comunicar quando começarão as vendas. É um outro dado negativo no placar de atrasos na organização do megaevento. O anúncio dos preços, se não for mais uma vez adiado, se dará apenas 11 meses antes de a bola rolar para a competição esportiva mais assistida globalmente.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/esportes/empreiteira-silencia-ameaca-parar-obra-no-itaquerao-7901870#ixzz2OBDMpp3j 

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