Eles prometem fazer manifestação amanhã para pedir a reabertura do espaço
Por Sergio Pugliese
RIO — Qual o destino do campo 1, do Aterro do Flamengo, o maior dos oito do parque, a estrela da companhia? Nunca, na história do futebol, um campinho de pelada despertou tantos conflitos de interesse entre políticos, empresários, jornalistas, órgãos da Justiça, patrimônio histórico, associação de moradores, empresas de material esportivo e federações. E os peladeiros, onde entram nessa briga? Cansados de blá-blá-blá, os craques partiram ferozes para o ataque nas redes sociais.
— É a única rede que estamos balançando atualmente! — ironizou o bancário Marco André Vianna Alves, camisa 10 do Mais Velho, time que há 30 anos joga no campo 1 do Aterro do Flamengo.
Na verdade, jogava. E é justamente aí que começa a confusão. O craque resolveu bater de frente com uma turma influente, mobilizou internautas e anunciou para sábado, às 8h, no campo 1, uma manifestação exigindo explicações sobre a situação da arena, há um ano fechada para torneios particulares e, atualmente, coberta nas laterais por entulho, barracas de camping, caixas d´água e, no centro, um tapete de grama sintética em bom estado, restos de um evento organizado pela Federação Carioca de Futebol de Sete, onda esportiva do momento.
— Volta e meia, o campo está fechado com cadeados. Um morador de rua virou seu dono, e a cada semana surgem versões para o seu destino — reclamou Marco André.
A equipe do blog “A pelada como ela é” esteve no campo para conferir a situação, e realmente os cadeados estavam nos portões. Um grupo de estudantes do Senai aproveitou a presença dos jornalistas para reclamar da privatização de um espaço público, e Antonio, o morador citado por Marco André, assustado, liberou a entrada da garotada.
— Um tal de André, da federação, pediu que eu ficasse aqui na barraca tomando conta do material. Mas parece que a Nike comprou esse espaço para ela — disse Antonio, chutando o balde.
E o mais impressionante é que o morador de rua estava superbem informado. Rodrigo Pian, da subprefeitura da Zona Sul, enviou e-mail para Marco André confirmando essa versão: “Meu caro, entendo sua insatisfação, mas a demora em revitalizarmos o campo 1 se deve a uma negociação, ainda em andamento, entre a prefeitura e uma grande empresa esportiva, desejosa de fazer do referido campo sua clínica nacional de futebol. A reforma prevê inclusive um vestiário. O atraso se deve ao grande número de envolvidos e à dificuldade em se alterar um projeto original tombado pelo Iphan. Permaneço a sua disposição para maiores esclarecimentos”.
— Essa empresa é a Nike — confirmou Leila do Flamengo, ex-administradora regional do bairro e que teria iniciado as conversas com a gigante esportiva antes de se reeleger vereadora pelo PMDB.
Segunda Leila, a prefeitura reformou todos os campos do parque, mas deixou o número 1 de fora porque a Nike se comprometeu a fazer ali uma clínica de Primeiro Mundo. Agora, a vereadora reavaliou o projeto e voltou-se contra ele. Leila já tem em seu poder um abaixo-assinado dos moradores reivindicando o fim dos torneios particulares — alguns transmitidos pela TV — no campo.
Políticos apoiam peladeiros
Ela encaminhará o documento ao Ministério Público. Os dois últimos grandes eventos foram organizados pela Federação Carioca de Futebol de Sete, com apoio da prefeitura, mas tanto leva e traz desanimou o presidente da entidade, Márcio Carreti.
— Quando organizamos os campeonatos brasileiro e carioca de futebol de sete no campo 1, o local estava completamente abandonado, servindo de abrigos para mendigos. Revitalizamos o espaço. Mas chega, vamos buscar outra área — desabafou.
A subprefeitura da Zona Sul informou que notificará a federação para recolher do local o material do último torneio, assim como a grama sintética esticada no centro do campo. Márcio Carreti explicou que só manteve o material ali porque existia a possibilidade de um novo torneio ser realizado, pois as negociações com a prefeitura estavam bem adiantadas. Com a mobilização nas redes sociais, Marco André ganhou o reforço de vários políticos, entre eles os vereadores Cesar Maia (DEM) e Teresa Bergher (PSDB). Ambos dispararam mensagens de apoio pelo Twitter. Os empresários do bairro também pretendem mobilizar-se para impedir que um projeto original tombado pelo Iphan seja alterado por uma empresa particular. Mas o mistério parece não ter data de validade: Iphan e Nike desconhecem essa informação.
— O que falta para a prefeitura devolver nosso campo reformado? — pergunta Leonardo, centroavante do Marcoense.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/campo-no-aterro-fechado-ao-publico-revolta-peladeiros-7845996#ixzz2NdfLcSIT
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