A Confederação Brasileira de Rugby projeta mudanças substanciais para 2012. Depois de uma temporada com muitas conquistas, entidade planeja profissionalizar a gestão ampliando o investimento na base. A tevê ao vivo foi parte fundamental na explosão do ráguebi brasileiro na temporada que acabou de encerrar com São José Campeão do "Super 10", também repleto de sucessos e torcedores no palco que hospedou o torneio a partir das Semis em Embú das Artes no Estado de São Paulo.
Depois de uma temporada de conquistas e frustrações para as Seleções de XV e Sevens e com aumento da visibilidade da modalidade, o gestor acredita que ainda há muito a melhorar e planeja, à longo prazo, a classificação do Brasil para uma Copa do Mundo.
As equipes têm apresentado melhoria técnica e experimentado boas surpresas com os jovens árbitros. Contudo, a implementação de programas de capacitação técnica é necessária para que o país transforme-se em uma potência da modalidade. Para isso, o foco em uma gestão eficiente e essencial, tanto para a CBRu, quanto para as federações estaduais.
"Na minha opinião, quem não se profissionalizar, morrerá lentamente ao longo dessa caminhada" comentou o Presidente da CBRu, Sami Arap Sobrinho.
Além disso ele acrescentou logo o comentário a seguir: "Somos muito gratos aos vários colaboradores que tanto dedicaram seu tempo familiar e profissional à CBRu mas é chegado o momento de mudanças substanciais".
Assim os esforços serão redirecionados para novas prioridades e as responsabilidades dos novos gestores serão focadas em resultados, para que a modalidade tenha um crescimento ordenado.
A partir de agora pode conferir a reportagem com o Presidente da Confederação Brasileira de Rugby
IMPRENSA: Quais os principais fatos que marcaram o ráguebi brasileiro em 2011?
SAMI ARAP: O ano de 2011 foi marcado por reestruturações e reorganizações de Seleções e campeonatos, especialmente o aumento de competições internacionais para as Seleções brasileiras de XV e Sevens. Tivemos resultados bons no Sevens Masculino (circuito sul-americano, CONSUR, Newquay e Middlesex), Sevens Feminino, (CONSUR e tour europeu) XV Masculino (CONSUR "A") e Seleções de Praia (II Jogos Sul-Americano de Praia Odesul no Equador). Entretanto, fomos surpreendidos no Pan-Americano de Guadalajara e em Dubai, tal vez pelo desgaste físico dos atletas, bem como não conseguimos fazer uma preparação adequada para a nossa Seleção Sub-19.
Focaremos esforços nas categorias de base, especialmente agora que possuímos a Academia Brasileira de Rugby (Centro de Treinamento em São José dos Campos - Estado de São Paulo). Plantamos a primeira semente do Fale Conosco (Programa de Desenvolvimento) e tivemos bom retorno das cidades visitadas. Melhoramos a capacidade financeira da CBRu, e logramos inserir o ráguebi em transmissões ao vivo na tevê. O saldo é muito positivo.
IMPRENSA: Como o senhor avalia o segundo ano da nova gestão? O que é preciso fazer para melhorar?
SAMI ARAP: A partir de Janeiro de 2010 começamos um trabalho de recuperação e reestruturação da entidade. Em 2011, melhoramos o perfil das competições, aumentamos o volume de jogos internacionais e asseguramos a Academia Brasileira de Rugby. Ainda há muito trabalho por fazer. Temos que profissionalizar a estrutura com pessoas altamente capacitadas e isso será feito em 2012. Usávamos pessoas ligadas ao ráguebi e muitas delas ainda ligadas aos clubes e atuando em torneios. Isso deve acabar. Vamos otimizar a equipe e investir melhor os recursos da CBRu.
Concluímos que o alto rendimento não alcançará patamares de excelência se não elevamos o nível das comissões técnicas. Faz-se necessário a criação de uma "Diretoria de Rugby" cujo objetivo será basicamente:
1 ) Identificação e coordenação de uma única comissão técnica para todas Seleções de XV e de Sevens, formada por profissionais oriundos do "tier 1".
2 ) Implementação de um programa efetivo de desenvolvimento.
3 ) Criação de um programa de identificação de talentos oriundos do ráguebi e de outras modalidades.
Somente com planejamento e organização voltaremos a integrar o top-30 do ranking da IRB. (Federação Internacional) e até almejar uma classificação para uma Copa do Mundo à longo prazo.
IMPRENSA: Quais as metas para 2012?
SAMI ARAP: 2012 será um ano muito difícil em vários aspectos. Teremos várias mudanças estruturais e culturais. Somente aqueles que tiveram competência reconhecida, dedicação e capacidade de assimilação das alterações permanecerão no grupo de trabalho futuro. Só almejamos, por exemplo, a classificação do Brasil a Copa do Mundo de Sevens na Rússia, em Março de 2013, é fundamental termos uma Seleção permanente dedicada ao Sevens, Dessa forma, os atletas masculinos de Sevens não representarão o Brasil na Seleção de XV, Precisamos treiná-los de forma coordenada e focada para o Sevens. Além disso, é necessário salvaguardá-los do ponto de vista físico. Em 2011, nossos atletas terminarão a temporada totalmente cansados e lesionados. Com isso, abre-se uma chance para que novos atletas sejam identificados para a Seleção de XV, e ainda a Seleção Feminina de Sevens, terá a mesma chance da Seleção Masculina, até porque tem alcançado melhores e constantes resultados no âmbito da CONSUR (Confederação Sul-Americana de Rugby).
IMPRENSA: Como você avalia a experiência com a Lei do Incentivo do Esporte? Pretende ampliar a quantidade de projetos? Quais?
SAMI ARAP: A Lei do Incentivo do Esporte é uma excelente ferramenta para divulgação da modalidade, aliada a captação de recursos financeiros. É uma oportunidade sem precedentes para atrair potenciais patrocinadores para Seleções Brasileiras e torneios da CBRu. É um caminho a ser seguido pelas equipes que pretendem profissionalizar-se. Em 2012, teremos projetos de LIE para as Seleções Brasileiras e para o Super 10, Além dos projetos financiados via LIE, buscaremos melhorar a Copa Cultura Inglesa (Sub 18), manteremos a Copa Mitchel Etlin (Sub15) e implementaremos um Circuito Brasileiro de Rugby Sevens para equipes femininas. É importante fomentarmos a prática do ráguebi feminino nos Estados, buscando divulgar a modalidade e aumentar o número de praticantes. Equipes como Charrua e Desterro estão praticamente isoladas em seus Estados. As Federações Estaduais devem investir na divulgação da prática do ráguebi feminino.
IMPRENSA: A CBRu tem hoje seis federações filiadas. Como estruturá-las para auxiliar o desenvolvimento da modalidade?
SAMI ARAP: Os Estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo e organizaram suas Federações Estaduais, entretanto, não basta ser um "entidade de papel". É preciso ser atuante e trabalhar com metas de desenvolvimento e alto rendimento nos seus Estados. A existência da Federação concede ao Estado o direito de representação perante à CBRu mas a Federação é responsável pelo fomento da prática da modalidade, no Estado e criação de torneios competitivos. Poucos Estados implementaram suas atividades com sucesso e a CBRu torce para que as Federações se profissionalizem.
Temos ciência que outros Estados tais como Bahia, Espírito Santo, Pernambuco, Mato Grosso e o Distrito Federal, querem organizar suas Federações e isso é um bom começo, que acarreta na organização da modalidade no país. Sem organização, não há divulgação, permanece o amadorismo; o amadorismo não alcançará as metas de excelência necessárias para o ráguebi tornar-se uma modalidade amplamente praticada no país.
IMPRENSA: A CBRu tem hoje grandes parceiros. Ainda existe espaço para novos investidores? Quais as demandas a entidade?
SAMI ARAP: Graças a reputação e credibilidade dos membros que integram a atual Administração, a CBRu conquistou importantes parceiros. Topper, Bradesco, Heineken, Grupo CCR, Cultura Inglesa, Probiótica, Terapêutica e Cremer, além de uma ótima relação com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o Ministério do Esporte (ME). Buscamos sempre novos parceiros, especialmente para o desenvolvimento regional e para as categorias de base. As Federações Estaduais e os clubes devem seguir o "modelo CBRu", e buscar parceiros locais para apoiar as atividades em seus Estados. O maior investimento da CBRu a partir de 2012 será categorias de base e comissão técnica de nível internacional.
IMPRENSA: Se a juventude è o "futuro do ráguebi brasileiro", como estimulá-los a garantir a continuidade do trabalho.
SAMI ARAP: Estamos certos que o ráguebi é uma ferramenta inigualável de educação a través de seus valores de respeito, lealdade, camaradagem, jogo em equipe, comunicação e transparência. Ráguebi é uma escola de vida, um ambiente altamente familiar e um mecanismo de inclusão social. Temos participado com muito êxito nos Jogos Escolares Brasileiros, pelo convite do COB, Alcançamos centenas de crianças até 15 anos, que ficam maravilhadas com a experiência do ráguebi sem contato ("tag ráguebi"). É muito importante estabelecer-se parcerias com as Prefeituras locais, visando obter a infra-estrutura necessária para a prática da modalidade (campos públicos) e introduzir ráguebi na grade de educação.