Por José Cruz
Há 21 anos, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro tinha apoio unânime dos presidentes das confederações. Prestigiado por gestão de sucesso – também longuíssima, outros 21 anos – na Confederação de Vôlei, não havia opositores.
Agora, cinco ciclos olímpicos depois de ter chegado ao COB, seis cartolas não apóiam Carlos Nuzman. Registra-se o impressionante surgimento de um opositor a cada três anos e meio. E por que essa idolatria de longo prazo?
“Porque há carência de pessoas”, respondeu Carlos Nuzman aos repórteres Eduardo Tironi e Michel Castellar, do diário Lance, deste domingo.
Por etapas:
Até 2001 havia queixas, choros, lamúrias de que faltava “apoio”. Dinheiro, em outras palavras.
Veio a Lei Agnelo Piva que seria “a redenção do esporte olímpico”. Veio a Bolsa Atleta
Foi editada a Lei de Incentivo ao Esporte. De três estatais, hoje são oito financiando o esporte olímpico e paraolímpico. Em 2003 criaram um ministério específico, do Esporte, que despeja dinheiro do orçamento nas confederações.
Revelação
Mas, mesmo diante dessa fartura de fontes de recursos, Nuzman nos revela que não temos “pessoas qualificadas” – para gestores … Por isso, os mesmos continuam nos cargos.
Indiretamente, Nuzman passa o atestado da incompetência da cartolagem – que o apóia. Foram incapazes, mesmo com muito dinheiro, de formar novos quadros. E explica, por extensão, o motivo de o COB não projetar medalhas em novas modalidades nos Jogos de Londres: nossos dirigentes são inexperientes, despreparados, amadores.
E os poucos que conseguem se salvar dessa catástrofe olímpica ganha o alvará de continuísmo — segundo Nuzman. Assim, pela carência de competentes atropela-se a democracia, a renovação, como ocorreu com Jorge Lacerda, o mais recente golpista na gestão do esporte, ao rasgar a lei para se manter no poder.
Isolamento
Os argumentos de Carlos Nuzman reforçam a tese do isolamento do COB e das confederações da sociedade esportiva em geral. Governam independentes, sem diálogo, ignoram a universidade, sede do saber, da pesquisa e da formação de gestores, sim senhores. Mas quem orienta quem neste baile de cada um por si? Somos um país olímpico com carência de especialistas no assunto. Haja importações milionárias… pois há dinheiro público para tanto. E quem se beneficia desse saber importado?
“Eu trabalho com uma equipe que facilita muito”, disse Nuzman aos repórteres. É a “Escola do COB” e o resto que se lixe – e pela entrevista não há outra expressão, é resto mesmo!
Enfim, é mais uma entrevista triste essa de Carlos Nuzman, pois revela o que tenho escrito, sobre o desmando generalizado do nosso esporte de rendimento. Temos instituições, leis, fartíssimos recursos financeiros. Mas não temos um plano integrado de todos os segmentos, metas, prioridades, planejamento. Como o dinheiro do contribuinte entra fácil é cada um por si, e isso sugere estarmos num processo de desperdício constante. E desperdício contínuo de talentos.
Insisto: quem forma atleta olímpico? O COB? A Confederação? O clube? Pois todos esses recebem muito – e muito é muito mesmo! – dinheiro público para o mesmo fim : “formação da delegação olímpica”.
E, agora, também a Confederação Brasileira de Clubes vai receber dinheiro — está na Lei Pelé. Sabem pra quê? “formação da equipe olímpica”… Serão R$ 40 milhões este ano.
Gostaria muito de ver o plano dessas instituições e confrontá-las para saber quem está gastando o quê. Com quem? Quanto?
Estão aí as mazelas deixadas pelo Pan 2007. O que fizeram os governos do Estado do Rio de Janeiro e do Município para aproveitarem o evento como impulsionador de um projeto integrado de identificação e formação de talentos?
Que grandes eventos as áreas esportivas receberam nos últimos quatro anos? Que público ocupou aquelas praças?
Mas o desejo da maioria é pela continuidade de Nuzman. Faz sentido. Porque, como já escrevi, se mudar para tentar melhorar, o sistema estraga, desmorona. E isso não interessa aos que dominam o campo de jogo.
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