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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Ciclo? Que ciclo?


Por Alexandre Cossenza

Não sei dizer por que o tema voltou a debate nos últimos dias, mas o fim do Projeto Olímpico da Confederação Brasileira de Tênis – encerrado no segundo semestre de 2012! – vem sendo tratado como novidade. E chama a atenção o comunicado enviado pela CBT nesta quinta-feira, explicando as dificuldades da entidade com a fiscalização e alegando que as supostas “falhas nas prestações de contas” eram consequência da falta de conhecimento do Ministério do Esporte em relação às peculiaridades do tênis. Leia abaixo o comunicado da CBT. Em seguida, faço um par de comentários.

Sobre o Projeto Olímpico Rio 2016, a Confederação Brasileira de Tênis esclarece que:

O Projeto Olímpico Rio 2016 foi assinado com duração de um ano e efetivamente teve a duração de um ano. O que ocorreu foi a verificação na prestação de contas da falta de flexibilidade para mudanças no decorrer da execução do mesmo, pois como foi conferido na prática, os atletas precisaram modificar as suas programações de treinamentos, as competições que participariam, as datas em que viajariam, o tempo que permaneceriam em determinados lugares, os locais onde ficariam hospedados, situações essas que foram comprovadas pela CBT na prestação de contas que já foi realizada. Projetos com o mesmo mecanismo do Projeto Olímpico Rio 2016 não poderão ser feitos, por falta de flexibilidade na adequação da realidade da modalidade tênis. A CBT possui dois novos projetos, o Medalha Olímpica e o Rede Nacional, já pensados para a realidade operacional do tênis, que dependem exclusivamente de aprovação do Ministério do Esporte;

Importante salientar que a CGU, após fiscalização por uma semana na sede da CBT e avaliação de documentos e prestações de contas, emitiu um parecer técnico, intitulado de Relatório de Demandas Especiais, especificamente sobre o Projeto Olímpico Rio 2016. A conclusão do parecer do CGU em relação ao inquérito de investigação conclui que há “FALHAS sem danos ao erário”. A conclusão é clara: não há em nenhum momento dano ao erário, ou seja, aos cofres públicos.

Todas as falhas dizem respeito à falta de conhecimento da fiscalização vigente sobre a realidade da modalidade. No caso da emissão de passagens, por exemplo, considerada uma falha na prestação de contas, explicamos: um tenista de alto rendimento, quando perde em alguma das rodadas de um torneio, já decide se vai participar de outro torneio em seguida ou se retorna ao Brasil para treinamento. Ele jamais fica parado esperando um torneio terminar, se ele já se desclassificou naquele torneio. Por isso as passagens não podem ser 100% planejadas com antecedência e sofrem alterações frequentes. Elas dependem diretamente do resultado dos atletas em cada torneio.

Em razão de um ex-dirigente da entidade ingressar com uma maldosa denúncia em diferentes órgãos federais (Ministério Público Federal, Ministério do Esporte e Tribunal de Contas da União) e como, por cautela, estes entes públicos possuem o dever de investigar todas as acusações que recebem, foram instaurados procedimentos administrativos. A CBT já prestou todos os esclarecimentos sobre as acusações que foram equivocadamente lançadas e aguarda a conclusão dos procedimentos supra citados;

Por fim, a CBT não fornece qualquer espécie de apoio financeiro ao Guga. Aliás, cabe ressaltar que o Guga por inúmeras vezes atendeu os pedidos da CBT e participou de maneira voluntária (sem cobrança de qualquer contrapartida financeira) de eventos e treinamentos com atletas brasileiros, de todas as idades, inclusive com as equipes que participaram da Copa Davis, não sendo justo que notícias inverídicas ao seu respeito sejam veiculadas na imprensa;

Replicamos as importantes considerações de dois importantes profissionais do nosso esporte sobre esta lamentável realidade.

“O término do projeto Rio Tênis 2016 causou-me uma extrema desilusão. Foi a primeira vez na história do Tênis Brasileiro que se formou uma equipe nacional de treinadores e jogadores, juvenis e profissionais, com uma safra excelente de tenistas, num momento oportuno, obtendo resultados imediatos e relevantes. Além disso, a oportunidade de envolver o Larri nesse processo era uma chance de futuramente transformar a realidade do Tênis Brasileiro num novo patamar de conquistas. É decepcionante que um projeto desse porte, elaborado para um período de 5 a10 anos, acabe em menos de um ano. Essa iniciativa representava um momento único, uma oportunidade incrível para o nosso tênis, uma ideia que parecia até um sonho, e que na realidade não passou muito disso. O fim do projeto é um verdadeiro banho de água fria e uma frustração enorme para mim e para quem torce pelo tênis e esporte brasileiro”, lamentou Gustavo Kuerten, integrante do projeto Olímpico Rio 2016.

“Acreditei e apostei num projeto que visava dar tranquilidade e qualidade de treinamentos aos jogadores. Quem esteve comigo e me viu nos torneios sabe o quanto eu me dediquei de corpo e alma para melhorar as condições dos jogadores que trabalharam comigo e em minha academia. Cumpri a minha missão para qual fui chamado. O projeto olímpico encerrou um ciclo”, falou Larri Passos, também integrante do projeto.

Confederação Brasileira de Tênis

Coisas que eu acho que acho:

- Curiosa a frase final do texto, de Larri Passos: “O projeto olímpico encerrou um ciclo”. Que ciclo? Olimpicamente falando, o ciclo mal começou. A não ser, é claro, que o treinador esteja falando de seus serviços à Confederação Brasileira de Tênis.

- Quando a CBT diz que “falta conhecimento da fiscalização vigente sobre a realidade do tênis”, vale ler (e ouvir) o que Jorge Lacerda diz aqui, neste post, sobre a Lei de Incentivo. O dirigente justifica que a fiscalização trata como falha qualquer mudança de planos feita de última hora. Ou seja, se um tenista perdeu e teve de mudar a passagem aérea, aquele gasto adicional faz com que as contas não sejam apresentadas da forma esperada pelo órgão fiscalizador. Assim, é necessário um ajuste na prestação da CBT.

- A CBT reforça que não fornece apoio financeiro ao Guga. Mas vale lembrar, apenas a titulo de curiosidade, que o tricampeão de Roland Garros tem contratos publicitários com os Correios, “patrocinador oficial” da Confederação, e com a Peugeot, “o carro oficial da CBT”. Obviamente, são empresas que investem no esporte e, por isso, querem estar associadas ao maior ícone do país.

- Por qualquer motivo que seja, justificado ou não, é muito triste que a CBT não tenha conseguido pôr em ação um grande e eficaz projeto de crescimento para o tênis no país. A entidade segue aprovando projetos aqui e ali, que não têm início nem término devidamente explicados e divulgados ao público.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/platb/saqueevoleio/2013/04/04/ciclo-que-ciclo/

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