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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mais do mesmo: é grave a crise da falta de accountability no esporte nacional


Vocês lerão abaixo duas reportagens dos excelentes José Cruz e Alberto Murray sobre a falta de transparência oficializada no esporte brasileiro. Leiam e tirem suas conclusões.

Dinheiro público paga salários no Comitê Olímpico

 Por José Cruz

 O deputado Romário apelou à Lei de Acesso à Informação para que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) divulgue os salários de seus funcionários, por ser um órgão privado que recebe recursos públicos.
 “Seria simpático dar essa transparência”, disse Romário. Eu particularmente, não trabalharia na CBF por menos de R$ 150 mil mensais. Há salários assim no COB?”
 A pergunta foi ao presidente do Comitê Olímpico, Carlos Arthur Nuzman, na audiência pública desta quarta-feira, na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados.
 “Somos obrigados a colocar online, ao TCU e CGU, todas as informações financeiras com gastos públicos. Os dados são auditados e estão disponíveis”, respondeu Carlos Nuzman.
 “E nesses gastos disponíveis estão incluídos os salários? – quis saber o deputado Romário.
 “Não”, disse Sérgio Lobo, diretor financeiro do COB, um tanto constrangido, respondendo a pedido de Nuzman.
 A resposta resumida, seguida de rápido silêncio, deixou implícito que salários são pagos com recursos públicos, mas com a concordância dos órgãos de fiscalização do governo federal.
 “Logo, devem se tornar públicos em obediência à Lei de Acesso à Informação”, concluiu Romário, após a audiência.
 Sem revelar valores, Sérgio Lobo afirmou que parte dos recursos da Lei Agnelo Piva pagam salários no COB. Os recursos, vindos das loterias federais, contemplaram o Comitê com R$ 904 milhões no primeiro decênio, entre 2001 e 2011?
 Para Essa operação interna, até agora desconecida, o COB dispõe de dados de uma empresa especializada no assunto para calcular o salários de seus técnicos compatíveis com os de mercado, segundo Sérgio Lobo.
 A Lei Agnelo Piva foi criada em 2001 e funciona da seguinte forma: 2% das arrecadações das loterias federais sáo repassados aos comitês Olímpico e Parolimpico para aplicação eprojetos de esporte?
 As despesas são auditadas pelo Tribunal de Contas da União. No COB, um sistema de comunicação instantanêa permite que técnicos do TCU acompanhem a movimentação da conta no mesmo momento em que o uso dedeterminado recurso é realizado.

 Altos Salários do Comitê Olímpico Brasileiro São Pagos Com Dinheiro Público.

 Por Alberto Murray

 Hoje Carlos Nuzman esteve em Brasília D.F., acompanhado de assessores, para uma audiência pública da Câmara dos Deputados. Estou fora do Brasil. Nem bem acabou a sessão amigos e companheiros de luta pela transparência no esporte ligaram-me para relatar os acontecimentos.
 Ao contrário das outras vezes, em que os ouvintes era obrigados a escutar longos, exaustivos e inúteis discursos da cartolagem, dessa vez, o encontro foi produtivo.
 E graças a boa atuação do Deputado Romário que fez perguntas corretas, precisas. Foi em uma resposta dada ao Deputado que a cúpula do Comitê Olímpico Brasileiro admitiu que os salários pagos aos seus executivos não estão na prestação de contas “on line” ao TCU. Admitiram que utilizam dinheiro do povo para remunerar executivos de uma entidade que insistem chamar de privada, qual seja, o Comitê Olímpico Brasileiro. Leiam o artigo de José Cruz, em seu Blog, que muito bem trata do assunto.
 Segundo fui informado, as perguntas do Deputado Romário criaram grande e visível constrangimento na diretoria do Comitê Olímpico Brasileiro. Nuzman, intensificando seus tiques, mostrou absoluto desconforto.
 Quem me acompanha sabe que, para mim, isso não é novidade. Sempre denunciei neste espaço que os altíssimos salários pagos pelo Comitê Olímpico Brasileiro a seus superintendentes e diretores contratados é feito com recursos públicos. Jã discorro sobre o assunto em programas de televisão e em artigo publicado na Folha de São Paulo.
 Um dos erros mais graves do Comitê Olímpico Brasileiro foi inflar a valores estratosféricos a sua folha de pagamentos. Já provamos e comprovamos que cerca de metade do que arrecada o Comitê Olímpico, é gasto em sua própria burocracia. E, por essa razão, sobra menos para as Confederações, para os atletas.
 É uma inversão de valores o dinheiro público sustentar salários muito altos de seus executivos, com dinheiro público, muito mais do que ganham a Presidência da República, Ministros de Estado, Ministério Público, Magistrados e Procuradores.
 Tomara que agora essas autoridades voltem-se para essa séria questão.
 Um Comitê Olímpico que vive de dinheiro do povo para satisfazer seus próprios caprichos, não pode se dizer, juridicamente, entidade privada. Perde essa condição, do ponto de vista legal. E mais do que isso, vários de seus serviços contratados com terceiros, também pagos com dinheiro do povo, tais como jurídicos, consultorias, contábeis e outros NÃO são feitos por licitação pública, como os obriga o Decreto regulamentador da Lei Piva.
 É certo que agora o Comitê Olímpico Brasileiro colocará seus lobistas e serviçais para abafar esse escândalo, no Congresso Nacional e na imprensa. Mas que eles não sucumbam às pressões implacáveis da trupe do Comitê Olímpico Brasileiro. Que a imprensa denuncie esse fato. E que as autoridades competentes investiguem.

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